Não há como ignorar os conflitos diversos e severos que reverberam pelo mundo – de norte a sul, de leste a oeste, centro, por todos os lados, por todas as bordas, de todos os jeitos. De humano, pelo que entendo do significado desta palavra, não há nada de estimulante e acolhedor nesses movimentos. O mundo está literalmente de pernas para o ar.
Vou começar pelos embates políticos desproporcionais e desrespeitosos que explodem neste momento de campanhas eleitorais para prefeitos e vereadores dos municípios brasileiros. Fazem sucesso nas mídias e conquistam seguidores, alimentando o abuso de poder, a prepotência e o egoísmo, entre tantos outros absurdos. A superficialidade dos discursos dá as cartas.
Na ânsia de projeção e poder, as pessoas colocam-se em um pedestal e ali mostram o que são e o que não são sem limites. Ou sem pudor. Em tempo de eleições, o que mais aparece é o político humilde, aquele “bonzinho” que faz tudo pelo povo. Ou vai fazer. As promessas e os abraços jorram como as águas de uma cachoeira farta, como se tudo fosse possível de resolver, como se as soluções dependessem apenas de boa vontade ou de um passe de mágica. Mas sabemos que não é assim! Fico, então, com o que diz o mineiro Altair Sousa – “Todo pedestal é uma prisão porque há sempre um preço a se pagar por estar nele. Desconfio muito dessa gente supersimpática com todo mundo, que tem sempre um pedestal pra oferecer a todos. Não gostar de algumas pessoas e também saber que muitas pessoas não gostam da gente é super-humano. Excesso, inclusive de simpatia, nunca é bom. Como muito bem disse Nelson Rodrigues: ‘toda intimidade é burra’”.
A intimidade que os políticos buscam nestes períodos eleitorais é sempre questionável, até porque as disputas pelo poder não se resolvem desta maneira. Precisamos de propostas viáveis, que resolvam problemas básicos que afligem a população, não de promessas recheadas de abraços e sorrisos para garantir o voto.
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Agora quero falar um pouco sobre o meio ambiente que há muito tempo grita, especialmente nos últimos meses, com a grave crise climática que explodiu, escancarou seus limites e sua exaustão em todos os cantos do mundo. Enchentes na Itália, incêndios em Portugal, calor fora de época em muitos lugares, fogo se espalhando pelo Brasil e por aí afora. O que vemos cotidianamente é dramático, mas a indiferença de quem interfere e provoca este destempero é assustadora. Gente que só tem olhos para seus umbigos e sua ambição desmedida que mata, destrói e devasta a natureza sem piedade, sem olhar para quem vive e depende daquele pedaço de chão.
Segundo a Matinal Jornalismo, a construção de um condomínio de luxo na Vila Conceição, em Porto Alegre, já removeu 315 árvores, apesar da indignação de parte da vizinhança. E fica por isso mesmo. Os governos sabem, mas não impõem limites aos abusos porque o poder financeiro fala mais alto. Quem dá mais? Até quando?
Triste constatação, mas é o que é!
Na verdade – os indicativos estão por aí para quem quiser ver – não estamos aprendendo nada com as tragédias ambientais que acontecem no mundo, no nosso país, no nosso Estado, na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa rua. O que nos leva a negar a realidade? A primavera, estação das flores, sempre estimulante, chegou. Como vai ser?
Teremos alguma luz no fim deste túnel de fumaça tóxica e administrações negacionistas?
Foto da Capa: Ivor Prickett / Acnur
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