Tenho vontade de escrever sobre coisas boas e não só falar de forma bonita ou interessante sobre coisas horríveis. O que ficamos sabendo sobre o Brasil, no entanto, não ajuda. Não resisto. Além disso, vivo na Argentina de Milei – outro tipo de 7 a 1. Nosso Brasil – e em consequência a América Latina – está em chamas e banhado em fumaça. Nossa culpa, mas não só. É o agro, é o agro, mas poucos de nós se animam a não alimentar o agro.
Nos últimos dias, o sentimento de impotência traz um choro por Améfrica – esse nome com o qual nos rebatizou Lélia Gonzáles, fazendo jus à nossa africanidade. Um choro pelas gentes, sim, mas também pelos bichos, pelas plantas que não fazem mais do que tentar salvar o nosso ar. Olhar para o outro lado, além de covardia, tampouco ajuda muito. Ainda assim, olho para as eleições estadunidenses. The people of Springfield preocupa desde os Simpsons, pior agora com Donald ainda firme no páreo, incluindo coisas estranhas no menu. Por que o Império não se importa com a nossa fumaça? Acho que sei – tenho cá meus palpites – mas vou me abster.
A vida do cidadão médio brasileiro – aquele que pensa que vai ficar rico como o coach a que assiste – é, como dizem, um pouco de droga, um pouco de salada e, além disso, uma dose cavalar de fake news e memes. O que isso diz sobre a nossa comunicação, sobre a nossa linguagem e, em consequência, sobre os nossos modos de subjetivação? Ainda é cedo para dizer, mas é evidente que impacta nas pessoas, ou nas “peçonhas” que estamos nos tornando. Ser moralista não faz falta, eu sei, mas estamos nos transformando na antítese da palavra civilização. A nova barbárie é suavizar a barbárie. Nem sempre nos damos conta, mas fazemos isso com o meme, com um humor que desconfio que, algumas vezes, é pura descarga de angústia. Se elabora pouco e nada da situação crítica.
Essa velocidade assusta tanto que, para e-laborar melhor, ando tomando o trabalho de escrever mais e-mails. A cada WhatsApp que penso em enviar, tenho me perguntado: Senhora, não será melhor enviar um e-mail? O imediatismo do WhatsApp assusta e, além disso, um pouco de comunicação assíncrona assumida faz bem. Melhor do que deixar o coleguinha, ou nossa amiga, ou nosso amor no gancho, na espera. Não tem a ver com São João, nem nada, mas acho o e-mail um baita correio elegante.
Por falar em elegância, sei que, às vezes, a minha fica com Deus. Acho que psicanalista é como quati de Foz do Iguaçu; gosta de remexer no lixo. É por isso que ainda me aventuro a falar sobre política. Nem sempre dá para ser elegante e interessante falando sobre política. Já escutei que não deveria, que não temos ferramentas, que há que se encontrar com esse limite, com essa falta e blá-blá-blá. Mas, para isto, está o botão “ouvidos moucos”. Ademais, persiste a convicção de que se abster de pensar, viver e falar política nos levou direto aos braços do fascismo. Com todo o meu respeito aos cientistas políticos, mas criar um elitismo intelectual não serviu de muito. Foi exatamente assim que o fascismo foi ficando muito confortável. Política era coisa de historiador, sociólogo, politólogo e o povo não podia nem querer saber. Acontece que eu quero. Sim, sou uma chata, ou melhor, uma quati bem chata de Foz.
Foto da Capa: Wikipedia
Tosod os textos de Priscilla Machado de Souza estão AQUI.