Onde começam os limites da nossa imaginação? E por que resolvemos limitar tudo a um padrão estético, cultural e racial predominante? A resposta pode não ser tão simples como nos acostumamos nos últimos anos a reconhecer direcionando a ideia de racismo estrutural.
Sou uma apaixonada por colocar no mundo o questionamento simples do “E se?” Isto nos coloca em múltiplas possibilidades, e nos faz pensar o mundo sob novas visões. Tenho uma admiração enorme pelo sociólogo Muniz Sodré e fiquei bem pensativa com seu artigo na Folha sobre o seu novo livro onde ele contesta o conceito de racismo estrutural e afirma que no Brasil a discriminação racial é difícil de combater por ser institucional e intersubjetiva, tendo como marca a negação do preconceito, e uma reconfiguração com ideias fascistas europeias.
Segundo o Muniz Sodré o racismo à brasileira se sustenta na negação. Ou seja, todos negam a subjetividade que o permeia que é baseado na simbologia de exclusão inclusive do imaginário de outras possibilidades para as pessoas negras. Por isto, Sereia Negra, 007 pretos causam estranheza no Brasil e são pensados como outras possibilidades por exemplo na cultura norte-americana diferente daqui.
Corta: Mesa do Bar Jeová em SP, e sou apresentada para a galera de vários intelectuais e profissionais da economia criativa brasileira, brancos, que me recebem muito bem e, no meio do papo, ao contar que sou colunista da SLER abordando o tema diversidade, me perguntam: Você viu que haverá um 007 preto? O que você acha?
Parei… tomei minha água e respondi: acho ótimo. Por que a estranheza? Será que estavam à espera de uma resposta militante sobre a importância da representatividade? Não, gente… quando li esta entrevista do Muniz Sodré o entendi… pois ali não estávamos falando de estrutura e sim de intersubjetividade. 007 é um personagem… uma criação de ficção que tem como elemento de personalidade inteligência, charme, ousadia, coragem… ele pode ser interprestado por um negro, um indígena ou asiático… e ponto… pode haver um 007 preto.
Na entrevista da Folha com Muniz Sodré, você não irá ver nada sobre 007, mas irá entender por que ele contesta o conceito de racismo estrutural, o que ele identifica como institucional e por que a intersubjetividade é tão importante para que não se massacre pessoas como Fred Nicácio, do BBB23 com a leitura de arrogância…
Ando bastante cansada de repetição de conceitos prontos que só levam a identificação de problemas, e não provocam as pessoas para as mudanças intersubjetivas que precisamos. O racismo que temos no Brasil, segundo Muniz Sodré, é uma derivação do antissemitismo europeu. E a principal maneira de combater o racismo é usar a filosofia da diferença, ou seja, aceitarmos que somos diferentes e que precisamos aceitar e nos abrir para as diferenças globais que temos e somos. É um pensamento avançado e global. Um pensamento de aproximação pela heterogeneidade. E Não o mantra de que somos todos iguais.
Aceitar as diferenças é um processo de não se achar eliminados na convivência.
007 é uma franquia de entretenimento que conecta com a capacidade do ser humano de imaginar, de pensar novas possibilidades. Então que Idris Alba feche a negociação, e que possamos sim ter mais um potente conteúdo que representa e cria referência para as pessoas pretas no mundo, através de mais uma narrativa audiovisual.