“Maestro” é o segundo filme de Bradley Cooper, que como no primeiro – “Nasce uma Estrela” (2018) – dirigiu, escreveu (com Josh Singer) e atuou. Nesse, a trama trata do relacionamento entre Leonard Bernstein (Cooper) e a esposa, a chilena Felicia Montealegre (Carey Mulligan). [Trailer no final do texto]
Bernstein, filho de judeus ucranianos, nasceu em Lawrence (Massachussets), foi e continua sendo um dos maiores expoentes da música norte-americana de todos os tempos. Lenny é considerado, por alguns, como o primeiro grande regente nascido nos Estados Unidos. Embora a proposta da narrativa esteja focada a sua vida conjugal, são alguns dos momentos esplêndidos da sua carreira que dão à obra o tom de grandiosidade.
Leonard começou cedo na música e ficou famoso igualmente cedo. Aos 17 anos, formado pela Escola de Latim de Boston, foi estudar música em Harvard, iniciando aí um próspero circuito de aprendizagem com grandes mestres, tais como Walter Piston, Fritz Reiner, Isabelle Vengerova, Randall Thompson, Serge Koussevitzky e Renée Longy Miquelle.
Num golpe de sorte – se é que existe sorte -, aos 25 anos, em 1943, foi chamado para substituir o maestro assistente da Filarmônica de Nova Iorque, que adoeceu. Subiu ao palco sem ensaio e no dia seguinte recebeu rasgados elogios do New York Times. Começava uma carreira que só teve ascendente, deixando um legado rico como regente, pianista e compositor.
Excluí daqui a polêmica que a prótese de nariz de Cooper (para ficar com nariz de judeu, como Bernstein) gerou nos Estados Unidos e dividiu opiniões, fiquemos com trechos do que a crítica disse até agora pelo mundo.
- Rolling Stones – EUA
Por Marlow Stern
Desde os primeiros momentos, você pode dizer que Cooper – e equipe – preparou algo especial. O diálogo é rítmico e rápido (…), e as lentes em preto e branco, cortesia do famoso diretor de fotografia Matty Libatique, lembram a Era de Ouro de Hollywood. Silhuetas de Bernstein (Cooper) e sua amada, Felicia Montealegre (Carey Mulligan), se fundem enquanto se beijam em um teatro escuro – uma cena que contrasta lindamente com aquela de mais tarde, onde o corpo dela é absorvida por sua vasta sombra.
“Maestro” é tanto a história de Felicia quanto a de Bernstein, e tanto melhor por isso. Através dela, vemos quão sociável, quão magnético, quão egocêntrico, quão frio ele poderia ser.
- The New York Times – EUA
Por Manohla Dargis
“Maestro”, o retrato íntimo de Leonard Bernstein feito por Bradley Cooper, voa com uma incrível exuberância.
Em “Maestro”, Cooper explora a definição – e o impacto brutal – desse tipo de sucesso com profunda simpatia, música exuberantemente bela e grande velocidade narrativa. Em linhas gerais, é uma história familiar de um clássico lutador americano. Bernstein era filho de imigrantes judeus-russos (sic), que escapou de um destino terrível nos negócios da família (a Samuel J. Bernstein Hair Company), para se tornar uma força cultural do século XX. Ele regeu e compôs, escreveu para balé, ópera e Broadway, e foi presença constante na TV. Ele teve álbuns de ouro e platina, foi capa da Time e da Newsweek e ganhou vários Grammys e Emmys.
“Maestro” é tão ambicioso quanto a excelente estreia de Cooper na direção, “Nasce Uma Estrela”, mas o novo filme é mais conscientemente cinematográfico. Algumas das opções – diferentes proporções de aspecto, bem como a variação entre o preto e branco e a cor – remetem à aparência de filmes de épocas anteriores.
Bernstein é, com razão, o acontecimento principal de “Maestro”, mas crucial para o significado do filme é o seu relacionamento com a família, especialmente com a esposa, Felicia Montealegre Cohn Bernstein
- Folha de São Paulo – Brasil
Por Teté Ribeiro
Ignore o fato de que Bradley Cooper não é judeu, gay nem bissexual, e que inclusive vive namorando supermodelos. Pense o fato de o galã de Hollywood escreveu, dirigiu e atuou no papel central de “Maestro”, que tem entre seus produtores veteranos como Martin Scorsese e Steven Spielberg.
Mas isso não seria relevante se o que chegasse às telas não fosse bom. E é. Aliás, apesar de ser uma produção da Netflix, esse é um daqueles filmes em que o tamanho da tela, assim como a experiência coletiva, faz muita diferença.
Uma vida não cabe em duas horas e nove minutos, tempo de duração de “Maestro”. Mas uma boa história, sim. E há uma ótima história, bem contada, bem dirigida, bem autuada e bem produzida neste novo longa-metragem.
Pena que a vida de Bernstein tenha tantas outras histórias incríveis.
Leonard Bernstein não nasceu para facilitar a vida de seus biógrafos. Mas inspirou um belo filme de Bradley Cooper.
- Otros Cines – Argentina
Por Fernando E. Juan Lima e Diego Batlle
O conhecido ator já havia mostrado sua eficiência (e visão comercial) com “Nasce uma Estrela”. Ele faz isso de novo agora, mas esse cálculo, esse propósito parece ainda mais evidentes.
“Maestro” é apresentado como uma história de amor e, de alguma forma, como um casamento com mais drama do que comédia. O que chama a atenção é a futilidade do olhar, a consistente futilidade com que o filme permanece na superfície dos conflitos que suscita. Pode-se imaginar que deve ter sido muito difícil chegar a um acordo com os filhos de Bernstein para contar uma história que não só penetrasse na privacidade dos seus pais, mas também numa parte importante das suas vidas. Mesmo assim, as elipses e os off-screen shots dão a impressão de serem ditados pela necessidade de adoçar algumas questões e não por uma decisão narrativa. As transições entre comédia e drama são deselegantes e acabam formando um filme verdadeiramente bipolar quando este parece não querer afirmar o personagem refletido.
- Fotogramas – Espanha
Por Manu Yáñez
Em uma cena reveladora de ‘“Maestro”’ – a magistral cinebiografia de Leonard Bernstein dirigida por Bradley Cooper–, o lendário autor da trilha sonora de West Side Story é entrevistado com sua esposa, Felicia Montealegre, no Ed Sullivan Show. Questionado sobre as diferenças entre os papéis do compositor musical e do “Maestro”, Bernstein fala de uma dicotomia profunda, com conotações esquizóides, entre a intimidade necessária à criação artística e a dimensão expansiva do espetáculo de palco. Esta tensão entre o privado e o público torna-se uma das forças motrizes de “Maestro”, que explora com determinação a vida de um homem preso entre múltiplas contradições.
E o extraordinário é que o personagem sobrevive sem ser submetido ao julgamento moral do cineasta, que vê os defeitos de Bernstein – seu narcisismo, seus vícios, seu permanente inconformismo, sua dificuldade de comprometimento sentimental – como qualidades inerentes à natureza humana, algo que já surgiu no notável “Nasce uma Estrela”. Na verdade, a propensão do ator Cooper em ocupar o centro não apenas das cenas, mas também dos enquadramentos, demonstra que a modéstia pode não ser a qualidade mais determinante da personalidade do cineasta Cooper.
- BBC – Reino Unido
Por Nicholas Barber
A cinebiografia de Leonard Bernstein, dirigida por Bradley Cooper, gira em torno de uma questão-chave: é possível ter tudo? Ou seja, você pode ser um maestro clássico de classe mundial se também for um compositor da Broadway e de Hollywood? Você pode ser aceito pelo establishment dos EUA se tiver sobrenome judeu? Você pode ter um casamento feliz com uma mulher enquanto tem casos com homens? Outro ponto da mesma questão abrangente deve ter ocorrido ao próprio Cooper: você pode ser o cara bonito de “Se beber, não case” e também ser levado a sério como um ator-diretor-roteirista-produtor digno de um Oscar? Acontece que você pode.
E é preciso coragem para dirigir um filme que poderia ser realizado, em qualquer tempo, por Steven Spielberg ou Martin Scorsese, que permaneceram como produtores. Mas “Maestro” confirma o que foi sugerido pela estreia de Cooper na direção, “Nasce Uma Estrela”. Ele tem ambições altíssimas, o virtuosismo técnico e a sinceridade generosa para realizar essas ambições com talento.
- Adoro Cinema – Brasil
Por Bruno Botelho
Cinebiografias não são nenhuma novidade em Hollywood, mas “Maestro” de Bradley Cooper traz uma abordagem menos padrão para a história de vida e carreira de Leonard Bernstein, funcionando como crônicas, voltadas mais para seu relacionamento de décadas com Felicia Montealegre. Por isso, é importante deixar claro que “Maestro” não está interessado em esmiuçar a biografia de Leonard Bernstein em detalhes para quem não o conhece – o que pode deixar muita gente perdida.
O principal problema de “Maestro” está em suas próprias intenções de ser um estudo de personagem. A decisão de deixar de lado muitas informações sobre a vida profissional de Leonard não ajuda na construção do protagonista, pois sempre passa a sensação de que falta algo, ainda mais quando temas de sua vida privada como sexualidade (bissexualidade) e seu relacionamento com Felicia não são aprofundados da maneira necessária.
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Os textos acima são trechos selecionados pelo autor das críticas completas publicadas originalmente nos veículos indicados.
Foto da Capa: Divulgação