Essa indagação causa reflexões. Nessa rotina, quais foram seus acertos e recomeços?
Uma observação precisa ser considerada sob o olhar de uma profissional da saúde que também é cientista social: para conquistar nossos projetos materiais, é necessário ter saúde.
Podemos avançar nas teorias relacionadas ao cuidado aos indivíduos e pensarmos nessa nova reorganização da vida a partir de uma perspectiva afro ancestral de modo que seja questionada a estrutura vigente, que continuamente nega, inviabiliza, apaga e mata nossas existências.
Por isso, é importante o questionamento, a pausa e a reorganização para não sermos aliados de práticas que inviabilizam e promovem adoecimento na população negra.
Estamos refletindo sobre a avaliação de um ano turbulento, onde as percepções e atitudes para a construção de uma sociedade equânime estão presentes na cena diária.
E não avançaremos se não tratarmos com responsabilidade sobre a vida de todos os cidadãos brasileiros, especialmente sobre o povo negro. Por isso, menciono os 10 anos do curso Promotores da Saúde da População Negra da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre/RS, idealizado para desenvolver habilidades, para que seus participantes sejam multiplicadores e multiplicadoras dos princípios para o alcance da Igualdade Racial no SUS.
Nesses 10 anos foram formadas 21 turmas com a representação de trabalhadores da saúde de diferentes categorias, além de outros profissionais, estudantes, usuárias/os e militantes do movimento negro para a mudança do processo de trabalho com o objetivo de garantir políticas de inclusão, equidade e igualdade para que os próprios alunos percebam e reflitam como o racismo institucional está presente no Sistema Único de Saúde.
É uma iniciativa pioneira sobre prática do cuidado, afeto, informação e empoderamento, idealizada, nutrida por mulheres negras na gestão dos serviços e, que tem muitas mulheres e mulheres negras principalmente, como agentes desse processo de mudança.
Segundo Bell Hooks, ativista e feminista negra, descreveu: ‘Em uma sociedade racista e machista, a mulher negra não aprende a reconhecer que sua vida interior é importante. A mulher negra descolonizada precisa definir suas experiências de forma que outros entendam a importância de sua vida interior.”
Vida longa aos Promotores da Saúde da População Negra de Porto Alegre e a todas as iniciativas para a construção positiva e de resgate de identidades negras, pelo direito à vida próspera, aliadas ao bem-estar individual e coletivo.
Para 2023, os cidadãos exercem o seu direito à cobrança no investimento em políticas públicas efetivas, para o combate ao racismo institucional.
E em 2023, o que você fará?
*Gisele Cristina Tertuliano é Enfermeira, Cientista Social, Doutora em Saúde Coletiva.
Foto da capa: Tania Rego/Agência Brasil