É… parece que não tem jeito, 2025 vai para a história como o ano que não existiu. A nova pesquisa Datafolha, divulgada na sexta-feira, dia 14, mostrando o derretimento (não repito os números porque você já está careca de saber, né?) da popularidade de Lula e do governo dele, transforma, definitivamente, todos os dias, daqui para a frente, em véspera do 4 de outubro de 2026.
Você acreditava no fim da polarização, no surgimento de uma terceira candidatura com alguma chance de ir ao segundo turno da eleição, no ano que vem, contra Lula e Bolsonaro? Ou contra os candidatos apoiados por eles? Pode tirar o cavalo da chuva. Vem aí um filme antigo.
Lula e Bolsonaro, ou o lulismo e o bolsonarismo, vão polarizar a disputa eleitoral em 2026. Melhor para os dois. Sem um terceiro nome competitivo, o primeiro turno é quase a antecipação da disputa final. Bom para os dois polos, que ficam naquela: vota em mim porque senão ele volta, ou vota em mim porque senão ele fica…
No contra plano dessa polarização na disputa presidencial, está a fragmentação da representação política no Congresso Nacional, onde 20 partidos têm bancadas. Assim, contados os votos da eleição presidencial, o vencedor, já na subida da rampa do Palácio do Planalto, terá que acenar à esquerda, à direita e ao centro. Passada a eleição, começa a repartição.
Cada uma dessas legendas, muito mais organizações de defesa de interesses regionais, corporativos, classistas e até pessoais, do que partidos políticos com alguma firmeza ideológica, vai pegando o seu naquinho e se acomodando no poder.
Então, melhor negociar – na campanha – o apoio a um dos candidatos já postos (a vice-presidência, por que não?) do que lançar uma candidatura nova. Afinal, todo mundo sabe, o vencedor terá – obrigatoriamente – que procurar os derrotados. Tudo em nome da tal governabilidade, que seria o fermento a dar alguma consistência à geleia geral…
Neste nosso presidencialismo de coalizão, ou semipresidencialismo, ou parlamentarismo branco – tenha lá o nome que for o nosso sistema de governo – onde o presidente da República nunca elege maioria no Congresso e precisa – como Lula – formar um ministério com auxiliares que vão do PCdoB ao PP, do PT ao União Brasil, passando por MDB, PSB, Republicanos e outros, o governo acaba virando uma geleia geral.
O senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, em entrevista ao portal PlatôBR, no dia da eleição das mesas diretoras do Congresso Nacional, dá bem a medida dos benefícios dessa polarização a quem está no poder. Ele garante que, enquanto Lula e Bolsonaro estiverem por aí, a polarização não acaba. E o senador fala de cadeira. Aliás, mais de uma cadeira.
Em Ciro Nogueira, você encontra a melhor resposta a quem quer saber por que a polarização não acaba. O senador piauiense, em 2017, numa entrevista à TV Meio Norte, do Piauí, disse, segundo matéria publicada em julho de 2021 no site da BBC News Brasil, que apoiava a eleição de Lula em 2018 porque ele, Lula, era “o melhor presidente deste país, especialmente, para o Piauí e o Nordeste”.
Na mesma entrevista à emissora piauiense, o senador disse que tinha restrições a Bolsonaro, a quem considerava um tanto fascista e preconceituoso. O mundo dá voltas e Ciro Nogueira roda junto.
Em 2021, ele virou ministro-chefe da Casa Civil do governo… Bolsonaro. Neste 2025, o partido que ele preside ocupa o Ministério do Esporte do governo… Lula e ele, Ciro, sonha com uma candidatura a vice-presidente de qualquer candidato… da direita, com preferência ao, até agora, inelegível Jair Bolsonaro.
Essa facilidade para circular da esquerda à direita e vice-versa não é exclusividade de Ciro Nogueira. Semana passada mesmo, Gilberto Kassab, presidente do PSD, partido que ocupa três ministérios do governo Lula, teve uma conversa privada com Jair Bolsonaro na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. O ex-presidente sonha ter o governador do Paraná, Ratinho Jr., do PSD, como aliado em 2026. Lula também já piscou para o paranaense…
Alguns dias antes desse encontro, Kassab afirmou que Lula seria derrotado se a eleição fosse hoje. Na mesma ocasião, em uma reunião com banqueiros em São Paulo, Kassab disse que o principal ministro de Lula, o executor da política econômica, Fernando Haddad, é fraco…
Semana passada, o presidente Lula deu um puxão de orelha no pessoal do Ibama que, segundo ele, estaria de lenga-lenga negando autorização para a prospecção de petróleo na foz do Amazonas. O presidente que se prepare, porque daqui para a frente o que ele mais vai ouvir é lenga-lenga, papo furado, conversa fiada, caô…
A pesquisa Datafolha da semana passada é munição para os franco-atiradores nas trincheiras sem regulação das redes sociais. O time de comunicação de Lula que se prepare, vem de tudo das redes bolsonaristas. O ministro-chefe da Secom, Sidônio Palmeira, com certeza, já viu que só entrevistas do presidente não bastam para recuperar apoio.
É preciso engajar a audiência e, em engajamento, a direita dá de 10 na esquerda. O PT sempre teve militância ativa. Agora, é só acompanhar as lives e entrevistas ao vivo de Lula para constatar que os militantes sumiram. Para cada 10 comentários contra o presidente, aparece um favorável. Cadê o PT?
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Foto da Capa: Ricardo Stuckert / Presidência