4 de julho. Uma mulher pronuncia uma data. Atenção! Acionem todos os alarmes, ela há de ser importante. E não adianta se refugiar no mundo, colado à Independência de um país qualquer, ou outro fato relevante. É coisa íntima. É data específica, efeméride particular, daí a sua relevância, maior ainda. Tampouco, é hora de dizer a verdade ou apresentar algum laudo neurológico. Sim, o Dr. Palmini havia se pronunciado a respeito, mas o lobo occipital atrofiado deve ter afetado a minha memória. Ela ainda sussurra que se tratava de algo no parietal, no frontal e, mais precisamente, na conexão entre os dois, com o efeito desagradável de homens não guardarem datas. As ressonâncias magnéticas com suas imagens parecem incontestáveis. Homens não guardam datas. É orgânico.
Hora de aguardar o contexto, a razão da data chegará em breve para quem é atento. A verdade conta contra, uma confissão agora poria tudo a perder. Sim, chegou, dia 4 de julho, a marca de 4 anos de um amor verdadeiro. Quem, em sã consciência de seus lobos, poderia esquecer uma data dessas? A reserva do restaurante está feita, mas Murphy está de olho, pois cai exatamente na hora do jogo. Não, não é qualquer data, mas também não é qualquer jogo. É contra o Palmeiras, a favor de permanecer fora da zona de rebaixamento. Mas atenção redobrada: a zona rebaixada de um amor é ainda mais incômoda, por isso é hora de comemorar longe das telas, olho a olho, no calor do amor. A vida – não a arte nem o esporte – em primeiro lugar.
Opa! Há esperança. Está prevista uma chuva torrencial e talvez seja mais prudente comemorar em casa. Sim, a prudência é fundamental, mesmo no amor, ao menos de vez em quando. É preciso concordar, ao mesmo tempo em que as preces são enviadas a São Pedro. De ambas as partes. Pobre São Pedro! Está mais espremido do que cão em procissão ou linguiça em cachorro-quente.
Agora a história bifurca e os lobos estão atentos ao que serão solicitados. Se chover forte, será preciso criar uma estratégia para deixar a televisão ligada sem som, e convocar o canto do olho para espiar. Tarefa arriscada, de exímia habilidade psicomotora. Se não chover, será preciso convocar a próstata e ir ao banheiro mais seguido para olhar o minuto a minuto no Terra Esportes. Tarefa menos arriscada, porque próstatas guardam uma certa legitimidade. 4 de julho. Pouco importa o desfecho. São Pedro relaxa e os humanos, também. O amor sobreviveu à química, à matemática, ao desequilíbrio climático, ao raio que o parta e tentava parti-lo. Sobreviveu à verdade e à mentira. Ao concreto, ao orgânico, à pequenez, à circunstância, ao comezinho. E agora se empertiga com a esperança apontada para todos os julhos que vierem.
Foto da Capa: Freepik
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