Afinal, é possível confiar nas informações fornecidas pelo ChatGPT? Eu me pergunto desde o primeiro contato com o ChatGPT se é possível atribuir credibilidade às respostas. Ao acessar o site do OpenAI, há um alerta “pode haver ocasionalmente informação incorreta e produzir instruções prejudiciais ou enviesadas porque está limitado a informações e acontecimentos até 2021”. Este aviso inicial deixa clara uma característica do modelo de linguagem da OpenAI: o dialógico.
O robô GPT gosta mesmo é da conversa. O modelo espera do humano perguntas sequenciais a partir das respostas para que ele mesmo possa aperfeiçoar as informações, ou, quem sabe, corrigi-las, caso o humano aponte imprecisão, incompletude ou incoerência. Mesmo assim, para uma jornalista forjada na técnica do texto informativo baseado em citação de fontes as respostas são frustrantes. Por isto, decidi conversar com o robô para ver se ele me convence que pode sim ser uma fonte confiável.
Cinco perguntas ao ChatGPT
Marlise Brenol: Quem é você, ChatGPT?
ChatGPT: Eu sou o ChatGPT, um modelo de linguagem de inteligência artificial treinado pela OpenAI. Eu fui criado para ajudar as pessoas a obter respostas para suas perguntas e fornecer informações úteis sobre uma ampla variedade de tópicos. Você pode me fazer perguntas sobre quase qualquer coisa e eu farei o meu melhor para fornecer uma resposta precisa e útil.
Marlise Brenol: Como você levanta as informações para fornecer as respostas?
ChatGPT: Eu sou um modelo de linguagem treinado em uma grande quantidade de dados textuais coletados da internet e de outras fontes confiáveis. Isso inclui sites de notícias, enciclopédias, livros, artigos de pesquisa e muitos outros recursos de informação online.
Quando você me faz uma pergunta, eu procuro em meus dados de treinamento para encontrar a resposta mais relevante e precisa possível. Eu uso técnicas de processamento de linguagem natural para entender a sua pergunta e identificar as palavras-chave e os conceitos-chave que estão relacionados ao que você está procurando.
Em seguida, eu procuro nas minhas fontes de informação para encontrar as mais relevantes e organizo tudo em uma resposta coesa e fácil de entender. No entanto, vale lembrar que nem sempre eu tenho acesso a todas as informações disponíveis e, em alguns casos, a resposta pode ser imprecisa ou incompleta.
Marlise Brenol: Você indica quais fontes de informação consultou para cada resposta?
ChatGPT: Eu não indico diretamente as fontes de informação que consulto para cada resposta, mas as minhas respostas são baseadas em uma ampla variedade de fontes de informações confiáveis e respeitáveis.
Isso inclui enciclopédias, livros, artigos de jornais e revistas, sites governamentais, artigos de pesquisa acadêmica, entre outras. Minha programação inclui um processo de verificação de informações para garantir que as informações que eu forneço sejam precisas e atualizadas.
No entanto, se você tiver dúvidas específicas sobre a fonte de uma determinada informação que eu forneço, é sempre uma boa ideia verificar a fonte diretamente para confirmar sua precisão e relevância.
Marlise Brenol: Como posso verificar a fonte diretamente para confirmar sua precisão e relevância se você não indica a fonte?
ChatGPT: Se você quiser verificar a fonte de uma informação que eu forneci em uma resposta, pode fazer uma pesquisa na internet usando as palavras-chave relevantes da resposta. Se eu forneci informações de uma fonte específica, você pode encontrar a fonte procurando por citações ou referências na resposta.
Além disso, se você quiser obter informações mais detalhadas sobre um tópico específico, é sempre uma boa ideia consultar outras fontes de informação respeitáveis, como livros, artigos acadêmicos, sites governamentais ou sites de organizações confiáveis.
Lembre-se de sempre verificar a reputação e credibilidade da fonte antes de confiar nas informações que ela fornece. É importante ter em mente que a informação pode ser imprecisa ou tendenciosa em algumas fontes, e é sempre uma boa ideia verificar a informação em várias fontes para ter certeza de que ela é precisa e relevante.
Marlise Brenol: Há previsão de revisão do modelo de linguagem de inteligência artificial treinado pela OpenAI para indicar sempre as fontes consultadas?
ChatGPT: Eu não tenho informações específicas sobre planos futuros da OpenAI para o ChatGPT ou outros modelos de linguagem treinados. No entanto, é importante lembrar que o objetivo principal do ChatGPT é fornecer respostas precisas e úteis às perguntas dos usuários, e ele é treinado em uma ampla variedade de fontes de informações confiáveis para atingir esse objetivo.
Ainda assim, a OpenAI está constantemente trabalhando para melhorar seus modelos e torná-los mais úteis e eficazes. É possível que no futuro a OpenAI possa introduzir novos recursos ou técnicas que permitam aos modelos de linguagem indicar mais claramente as fontes de informações que consultaram para gerar as respostas.
No entanto, é importante lembrar que, independentemente de quaisquer recursos adicionais, sempre é uma boa ideia verificar a precisão e relevância das informações de várias fontes diferentes para garantir que você tenha uma compreensão completa e confiável do tópico em questão.
A humildade empática da inteligência artificial
Empatia. O modelo de inteligência artificial que reproduz linguagem humana natural é impressionantemente humilde. O robô tem a humildade que falta a muitas pessoas. Quanto tempo já dedicamos a diálogos teimosos com pessoas que insistem em uma resposta por ter “certeza absoluta”. Inúmeras vezes, o absoluto torna-se relativo ao ser confrontado com mais duas ou três fontes. Assim funciona nos diálogos humanos.
O GPT é uma ferramenta digital útil ao que se propõe. Ainda que seja confessamente imprecisa, eu a vejo como um modelo confiável. Isso porque o chat é capaz de admitir o erro, pedir desculpas, confessar que não sabe e até mesmo mudar de ideia e reescrever se a conversa com o interlocutor for nesta direção. Uma humildade incomum em humanos, bastante apegados à vaidade do domínio do conhecimento.
Esses dias vi um meme no Instagram e TikTok sobre sala de aula e ChatGPT: “o que será do professor se a inteligência artificial trouxer todas as respostas?” perguntava uma pessoa em frente à lousa verde. Na sequência o aluno respondia com a pergunta “desde quando o professor tem todas as respostas?”.
A sabedoria do aluno do meme é genial. Em tempos de ChatGPT e de Google, mais importante do que ter todas as respostas é saber construir a melhor pergunta para obter a resposta desejada. Ensinar a perguntar, eis um dos novos papeis dos professores em sala de aula.
Google ou GPT: quem responde melhor?
Esses dias na agência onde eu trabalho, a Cartola Conteúdo, pintou uma dúvida: qual a origem da sigla JK de apartamento? A equipe não encontrava a resposta em nenhum dos links indicados pelo resultado na busca do Google e pediram para eu perguntar ao ChatGPT. Eu digitei exatamente a mesma pergunta feita ao buscador no chat com o GPT. Confira a sequência do diálogo:
Marlise Brenol: O que significa a sigla JK para apartamento?
ChatGPT: A sigla “JK” para apartamento refere-se a um tipo de apartamento que possui uma única divisão, sem quarto separado. Essa sigla é originária do bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde o arquiteto e urbanista carioca Jorge Konder Bornhausen projetou edifícios residenciais com unidades habitacionais desse tipo, conhecidas como “apartamentos JK”.
A sigla “JK” é uma abreviação do nome do arquiteto, Jorge Konder Bornhausen, e essa configuração de apartamento costuma ser uma opção mais acessível em relação a outras tipologias de imóveis, como os apartamentos de um ou dois quartos. Geralmente, os apartamentos JK possuem uma área útil reduzida, entre 20 e 40 metros quadrados, e são indicados para pessoas solteiras ou casais sem filhos que buscam uma moradia compacta e funcional.
Marlise Brenol: Qual a sua fonte para a informação de que a sigla JK significa Jorge Konder?
ChatGPT: Peço desculpas pelo erro na minha resposta anterior. Acredito que tenha me equivocado ao responder essa pergunta. Na verdade, a sigla JK não se refere ao arquiteto Jorge Konder Bornhausen como eu havia mencionado anteriormente.
De acordo com outras fontes que consultei, a sigla “JK” para apartamento se refere ao bairro Juscelino Kubitschek, em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde foram construídos edifícios residenciais com unidades habitacionais desse tipo. O bairro recebeu esse nome em homenagem ao presidente Juscelino Kubitschek, que foi prefeito de Belo Horizonte antes de se tornar presidente do Brasil.
Sendo assim, o termo “apartamento JK” seria uma referência ao tipo de imóvel comum nessa região, e não a um arquiteto específico. Peço desculpas novamente pela informação equivocada.
Marlise Brenol: Então posso confiar que a sigla JK para apartamento se refere ao bairro Juscelino Kubitschek, em Belo Horizonte?
ChatGPT: Sim, você pode confiar que a sigla “JK” para apartamento se refere ao bairro Juscelino Kubitschek em Belo Horizonte, Minas Gerais. Essa é a origem mais aceita e comum para a utilização dessa sigla em imóveis residenciais no Brasil.
Os edifícios residenciais construídos nessa região, especialmente na década de 1950, possuíam apartamentos pequenos e funcionais, com uma única divisão que servia como sala de estar, quarto e cozinha. Essa configuração de apartamento, popularizada na região, passou a ser conhecida como “apartamento JK”, em referência ao bairro.
Essa tipologia de apartamento se tornou bastante comum em outras cidades brasileiras, e ainda é bastante popular em algumas regiões, especialmente em áreas urbanas com alta densidade populacional e grande demanda por imóveis compactos e acessíveis.
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Marlise Brenol: Ok, você está desculpado, ChatGPT
Apesar da IA do chat me indicar a ocorrência de erro e me deixar sem a resposta final para o diálogo, eu me senti contemplada.
As mesmas perguntas sobre o JK feitas ao buscador Google trouxeram respostas que mais confundiram a nossa equipe do que nos ajudaram a compreender. O GPT errou e depois corrigiu, com pedido de desculpas. Ficamos mais satisfeitos com o GPT neste caso.
São dois modelos diferentes. O Google é um indexador de conteúdos terceiros por palavra-chave de maior ou menor relevância para resultados de buscas. O ChatGPT é um sintetizador de inteligência artificial para escrever uma resposta a partir dos conteúdos indexados. Mesmo sem apontar a fonte de origem da informação, preciso admitir, o ChatGPT me inspirou mais confiança na resposta do JK do que o Google.
Se o ChatGPT se integrar a uma lógica de mecanismo de busca e entregar a resposta com hiperlinks de origem, talvez atinja o máximo de eficiência na organização do conhecimento humano pelas máquinas. Teremos, finalmente, nos aproximado do sonhado projeto Xanadu do filósofo Ted Nelson. Vem desta ideia o ideal da construção do hipertexto digital repleto de links e possibilidades de trajetórias a seguir em um clique no qual o leitor, ao escolher quais fontes consumir, decide o caminho da própria construção de conhecimento.