Semana passada estive em Londres para uma reunião de negócios. Além da comida impecavelmente sofrível, pensei bastante na diversidade étnica que vi nas ruas, na televisão e até mesmo no número 10 da Downing Street.
Em Portugal é a mesma coisa. É fácil distinguir gente com origem na África, da Ásia, da América Latina e, obviamente, de outros lugares da Europa.
Para nós, brasileiros que usamos transporte público, não é nenhuma novidade (pode ser para quem só frequenta condomínio, clube privado ou anda no seu carro blindado). Mas, para os europeus, é uma resposta aos desafios do envelhecimento da população.
Nos últimos 100 anos a população global quadruplicou e envelheceu graças aos avanços da medicina e da ciência. Mas, na Europa, o povo envelheceu e não se reproduziu neste mesmo ritmo.
A população portuguesa, por exemplo, atingiu seu maior volume em 2011, quando eram 10,5 milhões de pessoas. De lá para cá, esse número vem decaindo e deve chegar a 6,9 milhões em 2100, o que ameaça a sustentabilidade econômica da nação.
Diante deste quadro, o governo socialista local vem investindo em uma série de políticas públicas, sobretudo no setor de imigração. A meta é promover a vinda de jovens que possam ocupar e qualificar o mercado de trabalho, garantindo a geração de riqueza e a universalidade de acesso a serviços de saúde e segurança social. E vamos convencionar uma coisa, “jovens” são pessoas economicamente ativas entre 25 e 60 anos
Mas não pense que isso é só alegria. Este plano está sendo atacado em muitas frentes. Em especial, pela extrema direita local, representada pelo Chega, o partido que quer um “Portugal para os portugueses”. Omitindo a seus seguidores que sem a imigração o país – ao contrário do comunismo – não vai ter segunda-feira, uns poucos celerados apostam na imperfeição absoluta.
É um investimento no caos e na destruição. No ódio ao outro para justificar as próprias deficiências. Na divisão entre portugueses, brasileiros, ciganos, europeus, para explicar todos os problemas causados por uma elite que dirige o país há séculos.
É um discurso que prega que, já que não existe governo perfeito, com escolhas inquestionáveis e pessoas inatacáveis, o caminho seria uma volta à barbárie. Seria necessário, na visão deles, investir na pureza nacional, com os bravos e fortes portugueses a dominar povos mais fracos.
Lembrou de alguma coisa? Sim, tem o nazismo, mas me lembra muito os zumbis de verde-amarelo na porta dos quartéis. Tento evitar um “vem meteoro”, mas às vezes dá uma canseira…
Fico aqui a pensar: será que temos tempo para educar uma próxima geração? Será que, se tivermos tempo, os pais e avós que juram ser descendentes diretos de Thor e Odin vão permitir? Será mesmo que as guerreiras do zap (que retocam a raiz a cada 15 dias para garantir um loiro digno de valquírias) irão entender o buraco que estão nos metendo?
Vendo a forma rápida como o governo das trevas brasileiro vai ficando para trás, dá uma esperança. Ver os ingleses arrependidos do Brexit dá arrepios de alegria. Agora, é apostar nisso e seguir atuando para que os portugueses aprendam com Suécia, Finlândia e Noruega ao invés de Itália, Hungria e Polônia.