As Olimpíadas revelam as múltiplas possibilidades do corpo.
É possível se equilibrar sobre uma prancha de surf, esforço que exige a musculatura das pernas, das costas, tudo na velocidade de um paredão de água. E Medina, depois de percorrer esse trajeto por dentro de um tubo, ainda se deu ao luxo de voar por uns segundos, homem golfinho, homem pássaro.
A precisão da disputa entre chineses e japoneses na final do atletismo. Um deles se sai perfeito sobre as barras. Outro faz sua equipe ganhar ouro porque foi mais perfeito ainda nas argolas. A força dos braços sustentando o corpo em linha reta, de cabeça pra baixo, no espaço.
Boxistas se engalfinhando, bordoada pra tudo que é lado. Sabe-se lá quem está em vantagem. E, de repente, um é o vencedor, caindo de joelhos com os braços pra cima.
A paciência do judô. A grande arma é a frieza para esperar o momento de dar o golpe preciso. Quem se arvora para derrotar o adversário certamente vem ao chão.
Frieza também é a chave do basquete. O cálculo da força e do espaço no arremesso para a cesta exige uma alma leve. Talvez seja o resultado de uma vida de treinos. Como um cantor que memorizou a letra de tal forma que simplesmente abre a boca e o texto sai. Se para pra pensar, esquece uma parte.
O vôlei parece se valer do esforço. A técnica se soma ao esforço. É um esporte mais humano. Quem erra tem vários momentos para se recuperar. Se for de duplas, melhor ainda. A repetição aprimora o jogador durante uma mesma partida.
Ginástica e dança, com a escolha da trilha adequada. O corpo salta, faz piruetas, sem perder o tempo da música.
O futebol feminino está cada vez melhor. Com técnica apurada, as jogadoras têm feito gols de placa. Mas a tática tem sofrido do mesmo mal do futebol masculino. Com a preparação física muito desenvolvida, sobram poucos espaços. A marcação é incansável. Foi assim que as japonesas viraram o jogo contra o Brasil já no apagar das luzes. Não se deram por vencidas e disputaram com a mesma intensidade cada segundo.
E o que dizer da loucura que é o rugby? Uns se jogam por cima dos outros, enquanto um mais baixo passa rapidinho com a bola embaixo do braço, fugindo da confusão.
O contraste maior com toda essa agitação se dá com o espectador: ver tudo isso deitado na cama pela TV, como tem sido o meu caso.
Foto da Capa: Rebeca Andrade / Reprodução do Youtube
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