Vítor Pereira, técnico português, trabalhou no Corinthians ao longo da temporada 2022. Antes mesmo do final de seu contrato, comunicou, no começo de novembro, que não renovaria pois decidiu voltar para Portugal. O motivo sensibilizou o País: retornaria para casa a fim de ajudar a esposa a cuidar da sogra, gravemente doente. Duas semanas depois, surpreendentemente, foi anunciado extraoficialmente seu acerto com o Flamengo. O clube carioca não quis renovar o contrato de Dorival Júnior, justamente o treinador que organizou o time e foi campeão da Copa do Brasil e da Libertadores. Esta troca inesperada e desajeitada foi a primeira tentativa de malandragem rubro-negra, que teve péssimas consequências no planejamento para o Mundial de Clubes – que se encerrou sábado com o Real Madrid campeão.
Com contrato em vigência com o Corinthians até 31 de dezembro de 2022, o Flamengo só pode contar com o treinador em janeiro. Isso significou 44 dias de férias para o grupo de jogadores. Enquanto os demais times brasileiros retornavam aos treinamentos nos primeiros dias de dezembro, os jogadores do Mengo curtiam a praia. A reapresentação foi depois do Natal e os trabalhos com Vítor Pereira começaram apenas no dia 2 de janeiro. Ou seja, um mês antes do Mundial!
O Flamengo foi exemplo de como não se preparar para uma competição tão importante. Andou de mão dadas com a soberba desde que ganhou a Libertadores com o dirigente que comanda o futebol do clube, Marcos Braz, liderando no vestiário canções como “Real Madrid pode esperar a tua hora vai chegar”. Eliminado já na primeira rodada do Mundial, ao perder para o saudita Al Hilal por 3 x 2, Braz tentou se sair com “o futebol está muito chato sem estas brincadeiras”. Só esqueceu que isso é atitude de torcedor na arquibancada e não de quem comanda um grupo de profissionais.
Mas teve tentativa de malandragem também no jogo propriamente dito. Preciso contar que o Flamengo saiu perdendo para o Al Hilal por 1 x 0, logo no início, com um pênalti bem marcado pela arbitragem. E então veio a barbeiragem. No bagunçado futebol brasileiro é comum que um juiz, ao marcar pênalti para um lado, fique mais sensível e possa fazer compensações. Deve ser isso que imaginou o volante Gérson ao tentar simular uma penalidade e acabar recebendo cartão amarelo. Esqueceu que o árbitro era da Romênia e que o VAR não era, digamos, tão amigo do Flamengo como acontece por estas bandas. No final do primeiro tempo, ele próprio, Gérson, cometeu uma penalidade e recebeu o segundo cartão amarelo: portanto, acabou expulso. Ou seja: punição a este jeito malandro do Flamengo de ser. O lance foi capital no desfecho do jogo. Fla eliminado e se conformando com o terceiro lugar no Mundial.
A bola puniu a série de malandragens do Flamengo. Desde um dirigente que falou demais, a saída abrupta do técnico que organizou o time e ganhou títulos, a chegada de um treinador que enganou seu ex-clube, a simulação de pênalti. Arrogante em seu DNA, o Flamengo talvez não aprenda a lição mesmo com esta gigantesca bordoada: o fiasco de ser eliminado por um time da Arábia Saudita. Mas o exemplo está aí, para que todos vejam.
A bola pune a tentativa de ser malandro no futebol
"Esperteza" em série levou Flamengo a um de seus maiores fracassos da história
Leonardo Meneghetti, jornalista com 35 anos de carreira, âncora de debates esportivos na Band desde 1994, também produtor de conteúdo digital no YouTube.
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