Nesta quarta, a primeira mensagem que recebi no WhatsApp, às 7h18, foi da Lisia, amiga de mais de 30 anos que mora há muito tempo no Rio e a quem vi pessoalmente uma única vez nos últimos 20, me dizendo que sonhou comigo, o Márcio e a Lina. Estávamos todos no mesmo bar e ela foi me abraçar. “E foi um abraço tão bom que lembro até agora da felicidade que senti!”
Alguns minutos depois, a Ana, mãe de uma amiga de escola recente da minha Lina, veio tomar café comigo no escritório. Aproveitamos o intervalo entre o horário (ridiculamente cedo) de largar as crias no colégio e o dela iniciar seu expediente para botarmos a conversa em dia. Não nos conhecemos há muito tempo, mas temos bastante afinidade, especialmente em torno da maternidade.
Ontem, soube de novidades importantes da minha melhor amiga de adolescência que mora em São Paulo e com quem perdi o contato frequente. Logo antes de largar o celular para ler e cair no sono, troquei mensagens banais sobre coisas do cotidiano com a família, com velhos e novos amigos.
Há pouco, ler o texto do meu amigo Pedro falando sobre como ele e sua amada Tainá acolheram a dor do zelador do prédio em que moram que havia perdido um gatinho me fez refletir sobre a sorte que tenho: estou cercada de afetos. E o calorzinho que isso provocou no meu peito me alegra e consola diante da vastidão de notícias ruins e perspectivas pesadas que nos atingem diuturnamente.
Já havia começado a escrever esta coluna quando tive contato com outra amiga querida que está passando por uma fase de desânimo e que, espero, tenha noção do quanto falei do fundo do coração quando disse: “Estou aqui pro que precisares. Te adoro”. Porque é a mais pura verdade. Adoro a menina que conheci e a mulher incrível em que ela se transformou.
Durante muito tempo, eu tive vergonha de sentir carinho por pessoas “desconhecidas” (fora da família). Era um misto de desconfiança com medo de não ser correspondida que, felizmente, a idade e a experiência dissiparam. Agora, nem sequer me vejo impelida, como costumava ser, a dizer que alguém é “como se fosse uma irmã” para justificar o apego. Felizmente, aprendi que podemos amar amigos, cada um à sua maneira, e que quando o vínculo é verdadeiro a amizade se mantém “mesmo que o tempo e a distância digam não”, como diz a infelizmente banalizada (porém ainda linda) Canção da América, de Milton Nascimento.
Afeto nunca é demais
No começo da pandemia, no período em que estávamos isolados em casa apenas nós três, sem saber como tranquilizar uma criança de sete anos em relação a uma situação sobre eu mesma não sabia quase nada, inventei a “bolha de proteção”. Na hora de dormir, Lina e eu nos abraçávamos e, respirando profunda e lentamente, nos imaginávamos envoltas em uma bolha que sempre tinha algum brilho e algum aroma decididos na hora. Estabelecido o clima, o passo seguinte era envolver todas as pessoas que queríamos ter “perto de nós”, protegidas pela bolha.
Não demorou para a bolha ficar cheia de gente. Enquanto eu restringia as ondas mentais às pessoas realmente próximas no dia a dia e da família, a filhota “trazia para perto” desde os amigos da escolinha com quem não convivia diariamente havia mais de ano e os respectivos pais e animais de estimação até os três avós que já estavam no céu, passando por atendentes de restaurantes que costumávamos frequentar em tempos normais. Um dia, quando eu disse que aquilo estava grande demais, a guriazinha falou em tom de obviedade: “A bolha pode ter o tamanho do infinito, mãe. Ela tá na nossa cabeça!”
Não foi a única lição que aprendi com minha filha, mas certamente foi uma das mais importantes. Desde que não sejam bolhas sem contato com a realidade (dessas, eu prefiro manter distância), as bolhas de carinho que criamos ao redor e dentro de nós são o melhor remédio para enfrentar a dura realidade.
<< Gostou desse texto? Avalie e comente aqui embaixo >>
Foto da Capa: Freepik