Os últimos anos têm sido especialmente duros, com muitas perdas, especialmente pelas centenas de milhares de mortes causadas pela covid-19. Nesse domingo, perdemos a antropóloga Adriana Dias, aos 52 anos, que nos deixa um grande legado.
Adriana juntava uma saúde frágil a uma vitalidade intelectual impressionante. A menina que, diziam, não chegaria nem aos 10 anos, por conta de seus ossos de vidro, se tornou uma importante ativista feminista, dos direitos das pessoas com deficiência e das pessoas com doenças raras. É uma referência nos estudos sobre deficiência.
Lutou incessantemente contra o capacitismo. Alertava que o preconceito contra as pessoas com deficiência estava presente no senso comum, podia ser encontrado em todas as esferas sociais e que marcava a pessoa com deficiência como menos humana, inferior, infantil, incapaz, inadequada.
A antropóloga ganhou destaque mundial com suas pesquisas sobre células neonazistas. Em pesquisa, divulgada no final de 2022, registrou o alarmante crescimento de 72 grupos hitleristas em 2015 para o número de 1.117 em 2022, estando espalhados por 298 cidades e 22 estados, além do Distrito Federal, sendo quase um terço deles somente em Santa Catarina, o local de maior concentração dos extremistas.
Alertou para o crescimento acelerado desses grupos na Internet, fenômeno mundial ancorado nos espaços de poder ocupados por líderes de extrema direita e normalizados pela popularização do discurso de ódio contra as mulheres, as minorias raciais e as pessoas LGBTQIAP+.
O movimento encontrou terreno fértil para sua multiplicação durante os anos do governo Bolsonaro, a quem Adriana Dias denunciou seguidamente, seja pela proximidade ideológica ou pessoal com o nazismo, como na carta enviada pelo ex-presidente a grupos nazifascistas.
Nunca deixou de apontar e condenar os seguidos gestos a retórica e as atitudes calcadas no nazismo e nos movimentos de supremacia racial presentes no governo Bolsonaro e seu entorno. Em seu mergulho na deep web, observou o firme apoio desses grupos clandestinos ao ex-deputado federal, seja na atuação parlamentar ou nas duas eleições presidenciais, como mostra matéria de Tatiana Farah no site Terra.
Fará falta.