Quando eu penso em voltar pra casa, é de Florianópolis que estou falando. Eu amo minha terra natal e, como dizem que Carlos Gardel dizia, referindo-se à Argentina, nasci aqui, na Carmela, aos 6 anos de idade.
Em Florianópolis, criei minha bolha de felicidade. Não são só as 42 praias oficiais e as mais tantas que estavam escondidas. Tem o pôr do sol na Beira-Mar, as praias vizinhas do continente, a ponte velha e as outras pontes. Tem o Rancho de Amor à Ilha, a Cláudia e o Zininho, o Luiz Henrique e a Neide Maria Rosa. O Valdir Agostinho, o Expresso e o Dazaranha. Tem o surfe e o skate, o Guga, a Figueira na Praça XV, o Arantinho e o lanço de tainha no Pântano do Sul. Eu posso escrever páginas e páginas de tudo de bom que Floripa teve e ainda tem, mas isso só vai continuar sendo verdadeiro se a gente puxar o freio de mão e repensar todo processo de crescimento involuntário e desordenado da cidade.
Florianópolis também é a cidade dos Beach Clubs permitidos e dos ranchos de pescador e Bar do Chico demolidos, da rede de esgoto inexistente em boa parte da ilha, da ocupação de áreas de preservação, das licenças ambientais para construções legais, mas imorais, do trânsito caótico. Eu poderia escrever mais um tanto de páginas sobre os problemas de Florianópolis, em parte gerados pelo crescimento exponencial a cada final de temporada, em outra grande parte causados pela total falta de planejamento estratégico e execução de políticas públicas de preservação do meio ambiente.
Furando a minha bolha de felicidade, uma pesquisa da ONG Sea Shepherd Brasil, divulgada em 19/09/2024, mostra que a querida praia do Pântano do Sul é a mais poluída por microplásticos do Brasil. Na mesma pesquisa, Florianópolis aparece como a terceira cidade do país com a maior densidade de microplástico por metro quadrado. As praias brasileiras contêm altas taxas de microplásticos e macrorresíduos por metro quadrado, e entre os macrorresíduos, o maior volume é de bitucas de cigarro. Uma realidade, não só no Pântano do Sul ou em Florianópolis. Resultado do negacionismo, do consumismo, da especulação imobiliária e da ganância mundiais.
A praia do Pântano não é imprópria para banho, mas essa pesquisa, como tantos outros dados científicos, já deveria ter acendido uma sinaleira na nossa cabeça, especialmente na hora de votar.
Estamos lentamente embrulhando nossas cidades e oceanos em plástico bolha, que estouramos com um misto de ansiedade e ignorância, liberando substâncias mortais visíveis e invisíveis. Enquanto a casa da Barbie não cair, a única certeza é de que teremos uma morte não tão lenta, mas extremamente dolorida de se ver e sentir.
Foto da Capa: Acervo da Autora - Exposição Roots of Reflection, da artista Karolina Henke, no Naom Museum de Estocolmo.
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