MPB virou, com o tempo, um nome genérico que abriga uma produção musical variada na nossa música. No entanto, essa sigla que significa música popular brasileira tem um contorno histórico, estético e político que se pode delimitar.
Na trajetória da música no Brasil, temos o samba convivendo com ritmos variados, ritmos latinos, como o tango e o bolero, antes da Bossa Nova. A música norte-americana corria por fora, com o jazz e o incipiente rock and roll.
Relendo o samba, com algum tempero do jazz, os bossanovistas tomaram a cena musical. Em seguida, na esteira da Bossa, e, em alguns casos até se opondo a ela, vem uma retomada do samba dos morros cariocas, a valorização dos ritmos nordestinos, a militância política de esquerda, tudo isso como ingredientes do caldo em que surgiu o que se passou a chamar de MPB.
No ambiente militante em que nasceu, o P de popular não significava apenas o contrário de erudita, ou mesmo de vinda do povo, mas tinha afinidade com a ideia de luta popular. E o B não apenas designava que era feita no Brasil, mas se alinhava política e esteticamente com o anti-imperialismo.
Avançando um pouquinho, alguns anos depois, vem o Tropicalismo questionar os limites da MPB, colocando em cena o que havia sido proscrito, como a música tida como de mau gosto, sentimental ao extremo de uma outra tradição brasileira, além da Jovem Guarda e do Rock.
É claro que havia no meio disso tudo um Jorge Ben, que era convidado para cantar em programas de MPB, de Jovem Guarda e dos tropicalistas. Como se sua música perpassasse todos os movimentos sem pertencer a nenhum deles.
Digo tudo isso pra falar do novo álbum do Zé Caradípia. São canções compostas por alguém que tem a ciência da MPB. Porque, depois do período de guerra dos anos sessenta, da chacoalhada da Tropicália, as conquistas estéticas da MPB passaram a dialogar com os tempos que se seguiram e continuaram de formas diversas na base das nossa canção.
Zé Caradípia é herdeiro dessa música e soa com sua dicção própria na contemporaneidade. Na preferência pelo violão com cordas de nylon, no canto ao mesmo tempo firme e suave, na abordagem brasileira inclusive dos ritmos estrangeiros, nos arranjos com outros instrumentos que não tiram o protagonismo da voz e do violão, o álbum Os Versos por Dentro é MPB até o caroço.
As composições trazem letras refinadas, como a boa tradição da MPB, de Raul Boeira e Márcia Barbosa. Procure na sua plataforma de música.