Até devo celebrar o Inter, que no sábado ficou com o vice-campeonato brasileiro de futebol feminino. O Corinthians venceu a final por 4 x 1 e conquistou o título. Mas penso que este momento nos exige uma reflexão mais profunda. Numa sociedade machista e que tem se acostumado a conviver com a agressão e o assédio às mulheres exaltar que o futebol feminino coloque mais de 40 mil pessoas num estádio também é mostrar respeito! O futebol feminino é uma realidade. Tem qualidade. Tem público. Gera empregos. Gera negócios.
O Brasil está um passo atrás no futebol feminino quando o comparamos com os Estados Unidos, por exemplo. Por quê? Porque mulheres tem mais dificuldade para praticar o futebol americano, aquela modalidade que exige força bruta e permanente contato físico. Para quem não está tão ligado, o football, nos EUA, é aquele esporte em que o objetivo é carregar a bola com as mãos até o território do adversário – muito competitivo, e às vezes violento. O futebol, como nós conhecemos aqui, lá é chamado de soccer.
Mas há outro motivo que fez os Estados Unidos avançarem no futebol feminino. Desde cedo, em parques e praças, é comum de se observar jogos entre amigos com meninas e meninos misturados em times. Esta prática passou a ser mais comum no Brasil nestes últimos anos, já que antes o preconceito não deixava. Mais do que isso: também passou a ser aceita por que há meninas que jogam muito melhor que meninos. Assim, as mulheres conseguiram seus espaços. Ou seja, na base do esforço e da qualidade.
Lembro bem de Luciano do Valle transmitindo jogos de futebol feminino, sempre em horários alternativos, apostando na modalidade como já havia feito com vôlei, basquete, box, e até sinuca. Os estádios eram vazios e não havia marcas com interesse em patrocinar. Acabou esta era pré-histórica! Hoje, grandes anunciantes querem colocar suas marcas em campeonatos femininos. As emissoras de televisão registram audiências expressivas e inclusive disputam direitos de transmissão. E há estádios com ótima presença de público. Outra: o Inter faturou cerca de R$ 1 milhão com venda de atletas e patrocínios no seu time de futebol feminino nesta temporada. Chegou a vender uma atleta, a meio-campista Mai, por 30 mil euros para o Sporting de Portugal. São números ainda bem abaixo do futebol masculino. Mas que representam um passo importante na valorização da modalidade.
Corinthians e Inter disputaram a final do Campeonato Brasileiro Feminino. Empate no Beira-Rio por 1 x 1 e vitória do time paulista no sábado por 4 x 1, com as “brabas corinthianas”, como são conhecidas, chegando ao quarto título. Em Porto Alegre foram mais de 36 mil torcedores ao Beira-Rio; em São Paulo o público ultrapassou a marca de 41 mil pessoas. As “gurias coloradas” devem ser reconhecidas pela façanha de alcançar este vice-campeonato, já que o clube, embora tenha se organizado muito para isso, ainda não tem o investimento de adversários do centro do País.
O mais importante: o futebol feminino se consolida no Brasil. Um consolo num país machista, que precisa de maior rigor na legislação para acabar de vez com o assédio e a violência tão comuns contra as mulheres!