Eu sempre tive o desejo de compartilhar com as outras pessoas as coisas interessantes que eu encontro. Quando leio um livro ou ouço um podcast que me fascina, logo penso que aquilo poderia interessar ao fulano, à beltrana e acabo escrevendo uma crônica sobre o tema para estimular que os meus queridos amigos leitores se apoderem destes conteúdos. No WhatsApp utilizo a chamada “Coisas lindas que andam por aí” para reencaminhar aos amigos as mensagens da internet que me encantam. Eu não sabia por que fazia isto, não era para ganhar likes, dinheiro, fama ou para parecer bonzinho. Depois de assistir muitas entrevistas e aulas da Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, entendi que nós não precisamos ser o ponto de chegada para os outros, ser ponte também é muito importante, podemos ajudar os outros dizendo “eu não sei, mas sei quem sabe”. Eu não sou especialista em muitos dos temas que abordo nos meus textos, mas eu sei quem sabe. Acho que este é o meu papel, ser a ponte de algo que encontrei com os potenciais interessados neste conteúdo.
Eu me encantei com o trabalho da Dra. Ana Claudia, médica geriatra que trabalha com cuidados paliativos. Ela mudou a minha visão sobre a morte e passei a gostar ainda mais de viver. Eu conheço pessoas que dizem “não quero nem pensar nisso”, como se falar fosse antecipar a sua chegada. Falar sobre a morte faz com que a nossa vida se torne mais prazerosa de viver porque iremos adquirir consciência da finitude e do valor de cada momento, do que realmente importa na vida. No nosso imaginário, temos ainda muito tempo, iremos morrer quando ficarmos bem velhinhos. Ninguém se pergunta: “e se eu morrer na próxima semana? Eu estaria aqui fazendo o que estou fazendo?”. Posso até imaginar as respostas, provavelmente fariam algo diferente da sua rotina, o que significa que não estão fazendo o que mais importa neste momento.
A Dra. Ana Claudia apresentou o TEDx “A morte é um dia que vale a pena viver”, que depois deu origem ao livro, já traduzido para cinco idiomas. Publicou outros livros e você encontrará diversas lives e aulas suas no Youtube. Ela usa a metáfora do deserto para falar sobre o se preparar para a velhice e para a morte. A Dra. Ana Claudia propõe um cenário em que as pessoas saberiam que dentro de 20 anos irão para um deserto. Sabendo disto, elas terão a chance de se preparar para este momento. Poderão pesquisar sobre as roupas que deverão levar, a quantidade de água, os cuidados com os insetos do local etc. Ninguém que chegar lá poderá dizer que não levou roupa de frio porque não sabia que a noite a temperatura cai no deserto. Da mesma forma, podemos nos prepararmos para o envelhecimento. Não espere adoecer para cuidar bem do seu corpo. Um corpo bem cuidado se recupera melhor quando houver uma doença. Não espere estar à beira da morte para dizer o você sente para as pessoas que ama, pode não dar tempo.
O risco iminente da morte é como dar de cara com um muro e não ter como transpô-lo. Neste momento a pessoa olha para trás e terá alguns arrependimentos, então ela se despe da persona que criou, não será mais o doutor, o empresário ou a influencer famosa, será quem realmente é, será somente seus sentimentos. Se for um paciente terminal, talvez ainda tenha tempo de se despedir de quem ama. Se o paciente sobreviver, terá a chance de usar os seus arrependimentos para dar um outro rumo para a sua vida e viver uma nova vida.
A Dra. Ana Claudia cita um estudo da Harvard que mostra a importância de termos nas nossas relações, pelo menos, uma pessoa que nos faça sorrir, uma que possamos ligar para nos levar para o hospital e alguém que vai nos ligar quando ela precisar ir para o hospital. São três corações que farão com que o nosso se sinta em paz.
Eu vou dar um spoiler, no final da nossa história, nós e todas as pessoas que amamos irão morrer. Hoje entendo que quando alguém morre deixa uma pista, que são os vínculos simbólicos. Embora ela não tenha mais presente ou futuro, teremos esta pessoa para toda a eternidade, basta pensarmos nela. Ela estará viva dentro de nós e não deixaremos de amá-la. Da mesma forma, nós poderemos continuar vivendo por meio das lembranças que provocarmos nas outras pessoas. Portanto, independente das suas concepções religiosas e filosóficas, o que podemos fazer hoje é cuidar bem de nós, das nossas relações e não deixar de manifestar nossos sentimentos para as pessoas que amamos. Quando a morte chegar, estaremos realizados e diremos, valeu a pena a viver!
Referências:
Livros da Dra. Ana Claudia Quintana Arantes:
– A morte é um dia que vale a pena viver,
– Histórias lindas de morrer;
– Pra vida toda valer a pena viver;
– Mundo dentro – poesias.
– TEDx – A morte é um dia que vale a pena viver
– Aulas 1 – (ver aulas 2 e 3)
– Live com Bruna Lombardi – Como lidar com perdas
– Live com Lúcia Helena Galvão – O que é mais importante na vida?