Quero hoje voltar no tempo e contemplar com carinho essa menininha da foto.
Que olhar sapeca ela tem!
Você sabia que ela nunca gostou de “maria chiquinha”? Porém, qual é a criança com três anos de idade que decide o que vestir ou como quer deixar o cabelo? Me lembro dela neste dia, sentada em um banco, fazendo pose para a foto de família.
Olhando para este registro tantos anos depois, sinto uma certa nostalgia e me pergunto onde foi parar esse brilho dos grandes olhos com enormes cílios. Tenho refletido bastante sobre essa criança que habita em mim.
Faz bastante tempo desde a última vez que a encontrei. Antes que alguém diga que é saudosismo, é síndrome disso ou daquilo, coisa da idade, aponto o dedo para o culpado com nome e sobrenome: “Piloto Automático”. Ele anda de mãos dadas com uma tal de “Rotina”. Juntos são capazes de apagar qualquer chama da infância que algum dia brilhou em nós.
Hoje eu (re)encontrei essa menininha. Ela estava bastante rebelde. Me trouxe tantas lembranças tristes e tantas dores que me deixou paralisada. Inocente de mim por achar que o tempo tudo resolve. Não resolve. Nosso cérebro esconde essas dores de nós mesmos para nos poupar, e nos poupando também nos priva da cura. É assim que seguimos: fingindo que está tudo bem no nosso mundo, sem coragem de cortar laços com pessoas que não nos nutrem mais, assumindo que o sacrifício é a forma de demonstrar amor aos outros, não nos permitindo ouvir nossa voz interior e nosso coração. Deixando de lado a intuição. Enterrando desejos. Ignorando sonhos.
A maturidade tem me trazido várias coisas boas, entre elas a descoberta de que apesar da idade ainda estou em construção e, para minha sorte, essa que vem por aí pode ser uma melhor versão de mim.
Não sei dizer exatamente quando foi que apertei o tal botão do piloto automático, mas sei que deixei ativo tempo demais. É hora de assumir outra vez o controle. Brilho nos olhos, chama acesa, vontade, motivação, prazer, propósito, não importa o nome, importante é ter e sentir!
Já disse para a menininha de olhos brilhantes da foto me esperar, pois eu vou resgatá-la.
Olhando outra vez a imagem, reparei que ela, sapeca e vivaz, está olhando para o lado quando deveria estar olhando para a câmera.
Minha menina, sei que você está me vendo entrar pela porta tantos anos depois. Quero te fazer uma proposta. Vamos fazer as pazes e caminhar juntinhas por esse mundão? Te amo.
Foto da Capa: Acervo da Autora