Era um domingo ensolarado e frio em Montevidéu, em 1994, e eu estava na capital uruguaia por 10 dias para produção de um programa especial de televisão que nunca foi ao ar. No bairro de Pocitos, sentei-me numa mureta em frente à casa de Juan Schiaffino, autor do primeiro gol da Celeste na Copa de 1950 – aquele lendário jogo em que os uruguaios venceram o Brasil por 2 x 1, de virada, num episódio que ficou conhecido como Maracanazo.
Eu já havia entrevistado o autor do segundo e decisivo gol. O simpático Ghiggia, numa das vezes que esteve em Porto Alegre, lamentou o que nós brasileiros fizemos ao condenar o goleiro Barbosa pela falha no gol. Mas foi de Schiaffino, que, aliás, fez o gol mais bonito do jogo, que escutei um relato inesquecível, ali mesmo, na mureta em frente à sua casa: “Aquele foi o momento mais feliz da minha vida. E o mais triste também. Nós, jogadores uruguaios, nos olhávamos e não sabíamos o que fazer. Os brasileiros estavam chocados nas arquibancadas. Era uma angústia imensa. Ficamos comovidos”.
Schiaffino concluiu a frase com seus olhos verdes encharcados. O rosto retangular, com rugas denunciando a chegada dos 70 anos, tinha um olhar perdido, distante. Schiaffino não precisou me dizer mais nada. A entrevista encerrou naquele instante. Bastou seu silêncio, a cabeça balançando lentamente, e sua expressão. Despedimo-nos com um abraço, como se ele quisesse me consolar por uma tristeza que não vivi. Estávamos emocionados. E eu nunca esqueci aquela conversa.
Por que escrevo sobre este momento de quase 30 anos atrás? Porque fiquei emocionado ao ver Pep Guardiola ser afetuoso com alguns jogadores da Inter de Milão, sábado, quando os italianos perderam a final da Champions League para o Manchester City. A Inter está longe de ter um timaço. Mas o treinador Simone Inzaghi soube construir um time competitivo. Enquanto o mundo esperava uma goleada do City na decisão, o placar de 1 x 0, e justamente com o goleiro brasileiro Éderson sendo um dos protagonistas do título do time inglês, mostra que é possível fazer futebol também com trabalho. Nem sempre para conquistar títulos e aqui está a crueldade do esporte: para que alguns comemorem outros precisam chorar. O futebol é duro com quem não ganha.
Foto da Capa: Manchester City / Reprodução