Em tempos difíceis, de abusos de toda ordem, onde mora a esperança? Em encontros como o que tive com alunos de duas turmas do Curso de Comunicação da Unisinos, em São Leopoldo, na noite de 26 de maio. Fiquei feliz ao ser chamada para conversar sobre Ética, Capacitismo e Inclusão no Universo das Pessoas com Deficiência, tema instigante que diz muito da minha vida e da vida de tantas pessoas. Só tenho a agradecer o convite das professoras Cybeli Moraes e Sabrina Franzoni e a presença atenta, participativa e acolhedora dos jovens que lá estavam. Na Unisinos, cursei Jornalismo e minha irmã Marlene Teixeira deu aula. Portanto, a emoção foi dupla!
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Começamos falando de Ética, ramo da Filosofia que estuda a moral, os bons costumes, o certo e o errado, princípios que orientam a conduta humana no sentido de estabelecer padrões de comportamento social que respeitem o outro. Um tema que pede uma boa reflexão, especialmente se olharmos para as pessoas que têm uma diferença marcante – física, intelectual, comportamental, social, de raça, de cor. Pessoas que buscam acessibilidade, inclusão e diversidade para viver a sua condição com autonomia, mas que a sociedade muitas vezes olha com restrições, minimizando direitos e capacidades. E assim caímos no Capacitismo, que não vê talento em uma pessoa com deficiência.
O Capacitismo julga a partir de uma ótica padronizada e reducionista, que só admite o perfeito, o belo, o forte. Atitude que exclui e infantiliza as pessoas com deficiência através de expressões que oprimem e de situações que não oferecem acessibilidade e inclusão. Não aceita e não reconhece a capacidade de um corpo, de uma mente, de uma ação fora dos padrões já engendrados e assimilados. Não vê potencialidade em corpos e mentes dissidentes. O capacitista olha para alguém com deficiência como exceção porque apresenta algo a ser corrigido ou superado. Uma visão segregacionista e cruel.
A deficiência não precisa ser superada ou enaltecida. E as pessoas não precisam ser tratadas como guerreiras, heroínas ou coitadas. Precisam, sim, ser respeitadas na sua condição, com seu jeito de ser. Precisam de Acessibilidade e Inclusão. A deficiência está em uma sociedade que não é acessível, não é inclusiva, não reconhece a diversidade que nos constitui como seres humanos e nega oportunidades para pessoas que não correspondem ao padrão instituído como normal.
Não devemos minimizar ou idealizar a capacidade das pessoas. Só se aprende sobre diversidade convivendo com uma pessoa diversa. Pessoas com nanismo, que é o meu caso, são tratadas desde a Idade Média como aberrações e a palavra anão foi usada desde sempre para ofender, ironizar, fazer chacota. Por conta deste uso preconceituoso, a expressão correta hoje é Pessoa com Nanismo.
Mas temos ainda as redes sociais e as/os influencers que de um modo geral abusam de atitudes discriminatórias em busca de likes, seguidores, enfim! O desrespeito é muito grande. Vou dar um exemplo. Recentemente, um rapaz pulou por cima de uma menina com nanismo na rua, foi fotografado por um comparsa e colocou nas redes fazendo piadas ridículas e ofensivas. Por conta disso, sei de pré-adolescentes e jovens com nanismo com medo de sair sozinhas. Porque não tratar com naturalidade, perguntar se a curiosidade é grande, conversar e oferecer ajuda? Enfim!
Acessibilidade, inclusão, diversidade e sustentabilidade são essenciais para uma vida digna em todos os sentidos, do privado ao público, e devem constar no nosso passaporte para a cidadania.
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Foto da Capa: Sabrina Franzoni / Divulgação