Não. Não pretendo aqui comparar os dois jogadores na tentativa de mostrar que um é melhor do que o outro. É sabido que Pelé foi aclamado como o rei do futebol.
É claro que isso foi numa época em que era moda chamar alguém que fosse considerado o maior ou o melhor de rei: Elvis, o rei do rock; o rei Roberto Carlos. Hoje, usa-se rei até como algo pejorativo: o cara é o rei da confusão; outro é o rei da cocada.
Em termos de distinções, a maior que Pelé recebeu foi o título de atleta do século, no caso, do século vinte. Só isso já basta.
A distância que coloco aqui entre o rei do futebol e Suárez é em termos de número de gols. Suárez é o quarto artilheiro em atividade no mundo. À sua frente estão Cristiano Ronaldo e Messi, com mais de 800 gols cada um, e Lewandowski, com mais de 600. Suárez comemorou recentemente a marca, já superada por ele mesmo, de 550.
Romário tem 772 gols em jogos oficiais, embora compute mais de mil, contando confrontos não-oficiais. Pelé, 1.283 em 1.363 partidas, incluindo amistosos não-oficiais. Em jogos oficiais, foram 765 em 812 partidas, segundo a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS).
No caso de Pelé, chama a atenção a proporção. Seja computando seu desempenho no número maior ou no menor, seu aproveitamento é de 94%. Ou seja, em apenas 6% das partidas em que jogou Pelé não marcou gol.
Com Suárez, segundo página na Wikipedia, o que pode ter alguma imprecisão, mas vale para termos um cálculo e avançar no raciocínio, numa contagem anterior a completar sua marca atual, o quadro era o seguinte: 793 jogos e 483 gols, o que dá um aproveitamento de 61%. No entanto, se somarmos ao seus gols as assistências, termo usado hoje para designar os passes que Suárez deu para um companheiro fazer o gol, seu índice sobe para 89%. Então, com seus gols e suas jogadas que resultaram em gols de um colega, o craque uruguaio não foi decisivo em apenas 11% das partidas que disputou. Como centroavante do Grêmio na atual temporada, podemos atestar o grande número de assistências do Luisito, seja as que resultaram em gol ou não.
Por esses números, a distância entre Suárez e Pelé é de 5% – Pelé não marcou em 6% das partidas e Luis Suárez não participou de 11% dos gols.
A diferença, fique claro, é de 5% se computarmos os gols e as assistências de Suárez contra apenas os gols de Pelé. Se ficarmos só nos gols de ambos, a diferença é de 33%. Pelé, com 94% é 33% mais decisivo do que Suárez, com 61%. E isso que não temos o número de assistências de Pelé pra botar no cálculo. Rei é rei. Mas Suárez também é grande.
Foto da Capa: Grêmio Oficial