Sempre me causou estranheza o fato de a imprensa raramente falar sobre jornalismo. Quase todos os assuntos são contemplados – dos mais relevantes aos mais fúteis, dos que merecem um tratamento profundo aos mais apressados – porém quase nunca o que acontece nas redações é tema de interesse público. Confesso não saber onde esta decisão esbarra: se numa ordem não escrita (tampouco assumida) por parte dos patrões ou se na eterna mania do jornalista de se auto desmerecer, um complexo de vira-lata que faz com que o profissional não se ache digno de virar pauta – arriscando um palpite acredito ser uma combinação não assumida das duas hipóteses.
Também sempre achei que seria melhor para todos – jornalistas e leitores – se o que acontece no ambiente das redações fosse mais conhecido. Nos últimos tempos são cada vez mais comuns os casos que envolvem demissões em massa nas redações (os famosos “passaralhos”) – e também em conta-gotas – que afetaram a vida de centenas de pessoas (algumas nem ligadas ao jornalismo) mas que sequer mereceram uma linha nos respectivos jornais. Há ainda o caso mais curioso de colunistas, comentaristas – ou seja, estrelas da profissão e das empresas – que de uma hora para outra somem das páginas sem a necessária explicação.
A bibliografia sobre o tema também é escassa. Fugindo dos relatos acadêmicos raros são os livros que se ocupam da vida nas redações e daqueles personagens estranhos que são os jornalistas. O mais amplo talvez seja Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti, ainda assim incompleto (apesar das quase 700 páginas) e marcado por opiniões extremamente pessoais e pequenas (e grandes) vinganças por parte do autor. E é por ter esse interesse pelo que acontece nas entranhas da profissão que escolhi há mais de três décadas que gostei de ler pouco tempo atrás o livro Treze Meses Dentro da TV, de Adriano Silva.
Apesar de ser da mesma cidade, da mesma profissão, da mesma geração e do mesmo time, não conheço Adriano pessoalmente. Mas a necessidade que ele teve de contar sobre suas experiências em redações do Rio e de São Paulo (experiência pelas quais em diferentes níveis, épocas e empresas também passei) fez com que eu me identificasse em muitos pontos com seu relato. Adriano fala de nomes conhecidos (Bial, Bonner, Zeca Camargo…), poderosos (toda cúpula do jornalismo global) e desconhecidos do grande público (embora muitos sejam nomeados) e tenta entender um fenômeno coletivo que atinge jornalistas e leitores. Partindo de sua experiência – o “fracasso” depois de 13 meses à frente de uma das chefias do Fantástico – Adriano conseguiu driblar o ressentimento e a autocomiseração (sua definição de “veni, vidi, perdidi” me pareceu adequada) e revelou um recorte fiel de como é viver nessa selva. Uma vida com paixões e discussões, com conquistas e derrotas (pessoais e profissionais), com grandes gestos mas também com o que há de mais mesquinho no ser humano. Ou seja, com todos os ingredientes que fazem parte de uma grande reportagem e que mostram como jornalistas às vezes também podem ser notícia.