A próxima sexta-feira marca os 21 anos de um dos crimes mais polêmicos da história recente. Um romance de encontros e desencontros que teve seu final trágico no dia 20 de agosto de 2000, quando o jornalista Antônio Pimenta Neves – então diretor de redação do Estadão – matou a tiros sua namorada, a também jornalista Sandra Gomide.
Quem quiser saber mais sobre a turbulência do relacionamento entre os dois e o desfecho bárbaro deve ler “Detrás das Dunas do Estadão”, texto de Sandro Vaia publicado na Piauí (que eu gentilmente coloco aqui).
Sandro foi o substituto de Pimenta Neves no comando da redação. Como complemento, indico ainda “À Queima Roupa”, livro que ganha importância também por outro aspecto muito relevante: escancarar parte do que acontecia (ou ainda acontece) nas redações de alguns grandes jornais brasileiros.
São disputas, traições, brigas, casos amorosos, relações de ódio, promoções imerecidas e demissões inexplicáveis. O autor, Vicente Vilardaga, estava na Gazeta Mercantil, extinto jornal de economia e negócios com base em São Paulo, onde Pimenta exercia o cargo máximo no comando da redação e Sandra dava seus primeiros passos na função de repórter.
Ali começou o relacionamento deles. No final de 1995, Pimenta Neves assumiu a chefia de redaçao da Gazeta Mercantil e, pouco tempo depois, começou a namorar Sandra, uma repórter 30 anos mais nova. O namoro foi marcado por brigas e também por promoções e aumentos salariais, que se repetiriam depois que os dois se transferiram para o jornal O Estado de S. Paulo.
Mas mais do que respostas, o livro lança perguntas: por que o comportamento violento e ameaçador de Pimenta não foi percebido e interrompido? Por que o nepotismo nas redações não é combatido? Como se dão as relações de poder dentro de uma redação?
E uma das conclusões é que, infelizmente, muitas vezes as empresas jornalísticas – tão duras e exigentes na vigilância do que ocorre no lado de fora – acabam se esquecendo de estabelecer limites dentro de sua própria casa.
Leia também: A dor da gente não sai no jornal – Parte 1