Nas últimas semanas, o debate sobre a jornada de trabalho tem ganhado destaque, especialmente no que se refere à tão discutida escala 6×1, adotada por diversas empresas no Brasil e no mundo. Essa escala, que estabelece uma jornada de seis dias de trabalho seguidos de um único dia de folga, tem sido apontada por muitos como uma rotina exaustiva e incompatível com a necessidade de conciliar vida profissional e pessoal.
A proposta de fim dessa escala, agora em pauta, representa uma oportunidade significativa de evolução nas condições de trabalho, com benefícios diretos tanto para os trabalhadores quanto para as empresas. Sou altamente favorável a essa mudança e acredito que ela pode gerar transformações positivas em diversos aspectos da nossa economia e sociedade.
No entanto, essa transição requer mais do que uma decisão das empresas e dos trabalhadores. É fundamental que o governo reavalie os encargos trabalhistas que incidem sobre a folha de pagamento, que, em muitos casos, praticamente dobram o custo do trabalhador. O governo deve ser um parceiro ativo nesse processo, reduzindo a carga tributária e permitindo que o ciclo de geração de empregos e crescimento econômico ocorra de forma sustentável.
O potencial da proposta de fim da escala 6×1 para gerar novos postos de trabalho é significativo. Empresas que desejarem manter a carga horária de 44 horas semanais precisarão contratar mais profissionais para dar conta da operação. Essa demanda por novos trabalhadores não apenas amplia o número de vagas disponíveis, mas também movimenta a economia, gerando mais consumo e, consequentemente, mais arrecadação para o governo.
No entanto, é preciso compreender que essa mudança só será viável e produtiva se houver um comprometimento conjunto. O governo, ao reduzir a carga tributária sobre a folha de pagamento, permitirá que mais empresas contratem sem que o peso dos encargos inviabilize essas contratações. Em última análise, a economia como um todo se beneficia, pois há um aumento de consumo, arrecadação e crescimento sustentado, com o governo se beneficiando no volume de arrecadação gerado pela movimentação econômica, e não apenas pela alta tributação de cada trabalhador.
Mais importante até do que a diminuição da carga horária semanal é a valorização salarial. Em um cenário de quase pleno emprego, como o que vivemos hoje, torna-se viável e essencial que as empresas invistam na valorização da hora trabalhada. Com melhores salários, os trabalhadores não só têm maior poder aquisitivo, mas também se sentem mais motivados a buscar capacitação e aperfeiçoamento, o que cria um ciclo virtuoso: trabalhadores mais qualificados se tornam mais produtivos, o que eleva a competitividade das empresas e gera um impacto positivo na economia.
Para que essa valorização salarial seja duradoura, é necessário também que as empresas invistam em treinamento e qualificação da mão-de-obra. Profissionais bem treinados contribuem diretamente para o aumento da produtividade, o que, por sua vez, justifica os aumentos salariais e o crescimento do setor como um todo.
Essa proposta de mudança na escala de trabalho exige um olhar atento para as transformações econômicas globais e uma adaptação às necessidades atuais dos trabalhadores e das empresas. No cenário internacional, diversas economias avançadas já estão experimentando modelos de trabalho mais flexíveis e humanizados. No Brasil, adotar esse movimento e reduzir a escala 6×1 pode ser um marco para alinhar o país às melhores práticas globais, promovendo a qualidade de vida dos trabalhadores e uma maior competitividade.
O fim da escala 6×1 é um passo necessário para o desenvolvimento sustentável das relações de trabalho no Brasil. Essa mudança, quando feita de forma conjunta entre empresas e governo, tem o poder de gerar mais empregos, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e contribuir para uma economia mais forte e inclusiva. Precisamos de uma visão de futuro que valorize o trabalhador e fomente o crescimento econômico, sem sobrecarregar as empresas com altos encargos trabalhistas, para que todos – trabalhadores, empresas e governo – saiam ganhando. Pense nisso!
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Foto da Capa: Fernando Frazão / Agência Brasil