Ontem, minha filha fez aniversário. A gente fez um festão, com churrasco, família, amigos, cachorros, meu famoso pudim de leite, mousse de maracujá colhido do nosso pé enlouquecido que dá maracujá o ano inteiro e foi plantado por ela quando era uma criança. Tinha música, risadas, decoração, bolo e até kombucha, para desespero de alguns cervejeiros. As amigas de infância, algumas com seus bebês rolando no gramado de um inverno quente e ensolarado em Florianópolis.
Montamos um quadro de tecido onde todos escreviam mensagens, desenhos e declarações de amor por essa menina tão querida. O único problema dessa cena linda é que a aniversariante estava 13 horas à frente, numa distância de 12.862 km entre ela e a festa surpresa não presencial.
Ter filhos (biológicos, adotados, emprestados, o que for) faz a gente pensar em coisas que nunca pensamos antes. Um amigo muito querido, que acabou de ter uma filha, me disse que estava tomando banho dia desses e lembrou de mim. Não achei estranho porque a gente sabe, né, a hora do banho é o cantinho do pensamento aquático da vida adulta. É um lugar onde a gente sente o conforto da água correndo – dependendo do chuveiro, claro – e onde brotam pensamentos aleatórios que fazem todo o sentido juntos. Enfim, meu amigo, que tem uma filha de 3 meses, lembrou da gente no banho, pensando no meu sofrimento de ter uma filha ‘do mundo’ e como deve ter sido dolorido me separar dela por um ano inteiro quando ela foi fazer intercâmbio, aos 16 anos. Lembra, meu amigo tem uma filha de três MESES!
Posso dizer que tem sido agridoce, desde a primeira vez que ela dormiu na casa da avó, das excursões da escola, da vez que tive que passar um mês fora de casa do outro lado do país trabalhando, de quando ela quis fazer intercâmbio em outro continente, quando fomos morar em outro país e ela quis estudar em outro estado, quando foi fazer mochilão, e, finalmente, quando resolveu morar, figurativa e literalmente, do outro lado do mundo.
É agridoce pelas apreensões que antecipamos. Eu, assim como meu amigo que tem uma filha de 3 meses e que já está preocupando se ela vai querer morar em outra parte do mundo, pensei em como gostaria que minha filha estivesse ali, ao meu lado, pelo resto da vida. Mas isso é realmente o que ela quer? Ela seria feliz?
Se enraizar ou querer explorar o mundo, ficar perto fisicamente ou ser próximo e aberto nos sentimentos, mimar ou educar, podar ou jogar pro mundo, sempre foram dúvidas que me perseguiram. Hoje penso que não tem certo nem errado, que se ela quiser ficar morando na cidade onde passou a infância, ótimo. Se ela quiser morar do outro lado do mundo, ótimo. O que a gente quer mesmo é ver um filho feliz, fazendo o que tem vontade, mudando de ideia, de cidade, de país, de profissão, sabendo que sempre estaremos lá pra apoiar.
Nunca tivemos muito dinheiro e todas as andanças dela pelo mundo foram pagas pelo próprio trabalho, esforço e curiosidade. Admiro tanto minha filha por isso! Admiro quando ela vai, quando ela volta, quando sinto que somos, sim, amigas. Quando crescemos e passamos a falar como duas mulheres, e especialmente, quando entendi que minha função como mãe é proporcionar informações e o porto seguro, mas também respeitar as escolhas e a pessoa que ela construiu com um pouco de mim, um pouco do mundo todo ao redor, que ela mesma buscou. Te amo filha, que nossos momentos juntas sejam sempre intensos e cheios de amor, verdade e mudanças!
Foto da Capa: Acervo da Autora
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