Durante a semana parei em um vídeo do Tik Tok da revista Elle com este título onde uma repórter, com seus – no máximo – 24 anos (lembro que me graduei em comunicação social com 21 anos), explora em formato de vídeo uma abordagem sobre este fenômeno de comportamento que fala transversalmente sobre moda, novas gerações, estética e sociedade.
Antes de continuar este texto é importante colocar que o Tik Tok hoje já está em sua 2ª geração de creators mudando, após a monetização, o perfil da plataforma. Antes reconhecido por dancinhas e trends musicais, hoje é cheia de v-logs sobre comportamento, análises, tutoriais, conversas descoladas sobre política, mundo, consumo, viagens e por aí vai. Mesmo com toda discussão, e seu primeiro banimento em um estado americano, a plataforma é com certeza um espaço de conteúdo descolado e inovador.
Mas voltemos ao vídeo da repórter Lelê Santana que me chamou a atenção:
Lelê Santana conta um pouco sobre a reportagem feita por outra repórter da Revista Elle de forma visual. O foco da matéria é o anúncio do Tik Tok sobre a selfie perfeita: onde uma garota estica seu braço para o alto e usa a câmera traseira para fotografar a cena. Depois, mostra o resultado. Dá para ver o cômodo inteiro, o braço comprido da garota e seu rosto, ao lado do rapaz que a acompanha na foto.
O conceito é bem diferente daquele que era tendência há quase dez anos- basta lembrar quando Ellen Degeneres juntou o elenco mais estrelado do planeta nas selfies mais famosas de todos os tempos durante o Oscar de 2014. Ali Bradley Cooper, Julia Roberts, Meryl Streep e outros nomes de peso apareciam ao lado dela, buscando seu melhor ângulo amontoados, preenchendo todo o espaço da tela. Um documento histórico, além de divertido.
A partir daí, imitado por toda uma geração de milleniuns com caras e bocas nas redes sociais, destacando os rostos e olhares em busca da sedução e imagem perfeita.
Hoje, porém, a foto perfeita, pelo menos para parte da Gen Z (do inglês Generation Z) funciona menos como auto espelho, em que cada pose é milimetricamente controlada, e mais como aqueles registros pré-mídias sociais em que o fotografado é apenas um dos componentes do quadro, e podem nem estar na sua melhor forma.
Parte da Gen Z está nem aí com a perfeição. Ao contrário expressa outro comportamento como avatares sem fotos nas redes sociais, fotos desfocadas, caretas, pose de recusa a paparazzi e aí vai.
A Gen Z se expressa através da onda chamada Ugly Selfies. Ou seja, as fotos “imperfeitas” e conteúdos estranhos são a linguagem que os identifica e os faz bombar nas redes sociais. Este fenômeno impacta também na maneira como eles se relacionam com a ideia de “influenciador”, como alguém que tira selfies impecáveis e fala sobre lifestyle, beleza. Para a Gen Z está em alta quem publica conteúdos engraçados, autodepreciativos e estranhos. Pessoas que não aparentam a ideia de viralizar. Entender este comportamento faz parte de entender cultura digital e inovação.
Que uma geração busca contradizer a outra é um comportamento social já comprovado, mas a Gen Z chega no seu momento impactando consumo e mercado, a partir da sua perspectiva moldada pela pandemia, uma maior preocupação com o meio ambiente e alto custo de vida que os faz se distanciarem dos influenciadores “tradicionais”.
Não tem nada de errado em querer postar selfies só para exaltar a beleza e biscoitar. Mas é interessante entender que uma vida e aparência perfeitas não são mais os principais pilares das redes sociais. Pela ótica dos jovens (abaixo de 24 anos). O humor, a criatividade e a autenticidade – ou ao menos uma ideia de “autenticidade” – está ganhando cada vez mais espaço.
Este fenômeno me chamou atenção como profissional de comunicação e pesquisadora de narrativas emergentes e cultura digital, e também como um fenômeno intergeracional ao ter sobrinhos com 14 e 16 anos que possuem comportamentos totalmente “estranhos” à ideia da “perfeição” e expressam até uma aversão ao culto da imagem nas redes sociais.
Acredito que a construção de diálogos intergeracionais parte de uma abertura para entender as novas manifestações, e poder construir elos que não se rompem possibilitando comunicação e respeito às diferenças. Então, sim, com certeza, a selfie posada é datada e está morrendo. Mas, tudo bem, existe o lugar de tia, mãe, avó… e está tudo certo cada um expressar a sua identidade a partir das suas vivências e das interações com o espírito do tempo.
Foto da Capa: Reprodução do Tik Tok