Os jornais da semana passada noticiaram mais um corte orçamentário dirigido à área de educação, a mais atingida pelas tesouradas de bilhões feitas pelo governo Bolsonaro. Segundo os reitores das universidades federais, esse novo bloqueio de recursos inviabiliza o funcionamento das instituições. Diante da repercussão negativa em pleno período eleitoral, o Ministro da Educação anunciou o recuo do governo em sua página no Instagram.
A guerra travada pela extrema-direita contra as universidades não é de hoje, sendo o ápice da luta travada em torno da Educação.
No seu famoso ensaio “O Fascismo Eterno”, Umberto Eco lembra que o fascismo celebra o culto da ação. Mussolini juntou esse culto ao futurismo, movimento que cultuava a virilidade, o individualismo, bem como a velocidade das máquinas modernas, que era celebrada por seus passeios de motocicleta com seus seguidores, precursores das atuais “motociatas”.
Eco lembra que, para o fascista, a ação é bela e deve ser feita “antes e sem nenhuma reflexão”. A cultura é suspeita, pois leva ao pensamento crítico, o que leva o fascismo a afirmar que “as universidades são um ninho de comunista”, destacando que complementando: “a desconfiança em relação ao mundo intelectual sempre foi um sintoma do fascismo”.
Jason Stanley, em seu “Como Funciona o Fascismo”, ecoa as palavras do semiólogo italiano e aponta o Anti-intelectualismo como uma característica intrínseca ao fascismo. A educação deve apresentar, sem questionamento, a cultura nacional e seu passado mítico. Ao mesmo tempo, qualquer questionamento é visto como verdadeiro ato de traição enquanto a mídia fascista e seus partidários buscam destruir a credibilidade de qualquer hipótese de questionamento, em especial, as universidades.
Em 2019, o então ministro da educação Abraham Weintraub denunciava a existência de extensas plantações de maconha nas universidades e que as faculdades de química seriam centros de doutrinação produtores de metanfetamina. Seguia a trilha de seu mestre, Olavo de Carvalho: “Universidades, no Brasil, são, em primeiro lugar, pontos de distribuição de drogas. Em segundo, locais de suruba.”
Os atuais governos de corte autoritário que se inspiram no fascismo do século passado têm seguido à risca os mandamentos da Guerra às Universidades. O russo Putin e o húngaro Orbán expulsaram universidades pluralistas de seus respectivos países. O trumpismo vê as universidades como um perigo e se dedica a combater os seus perigos. Para eles, a vanguarda do complô das universidades para minar os “valores familiares” é o feminismo, liderado pelos acadêmicos dos estudos de gênero.
Uma das medidas de Erdogan ao sufocar a democracia turca foi o expurgo de cinco mil acadêmicos, entre reitores e professores, acusando-os de ser “pró-esquerdistas”. O objetivo: uma educação destinada a proteger os “valores nacionais”.
Na Polônia e Hungria, símbolos dos governos de ultradireita da Europa, reformas educacionais destinadas a promover os valores nacionais e cristãos levaram os sistemas de ensino ao caos. Uma das consequências é a escassez de professores e de vagas para alunos, sendo estimado que as escolas polonesas necessitem pelo menos 20.000 novos professores. Em ambos os países, os baixos salários estão entre as principais causas do abandono em massa do magistério que também sofre com os recorrentes cortes de recursos orçamentários. A perseguição ideológica e a demonização dos professores pelos governantes são apontadas pelos docentes como outras das razões para a fuga.
Em novembro de 2021, um apoiador disse ao Presidente no chamado cercadinho do Palácio do Alvorada que Hitler começou com as crianças e questionou se o nosso Ministério da Educação já poderia estar fazendo também um trabalho com as crianças de conscientização.
Bolsonaro lamentou e disse que “não consegue” devido a entraves burocráticos. As urnas dirão se ele terá uma nova chance de conseguir ou não. Saberemos ao final de outubro.