A escola é uma segunda chance de escrever a nossa história, com tudo o que ela representa, entre tantas figuras de apego que é capaz de oferecer. O seu espectro amplo vai do fraterno, que são os colegas, ao parental que são os professores e demais funcionários.
Hoje volto à escola como escritor, participando de vários projetos de fomento à leitura como o Adote (um Escritor) e o Lendo para Valer. Ali reorganizo as minhas figuras de apego e me relanço ouvindo novas histórias. Pois, como disse um autor dos mais graúdos, nunca está pronta a nossa edição final.
Dia desses, na Escola Municipal Emilio Meyer, ouvi um relato que está ecoando em mim até agora. Ele me foi contado pela professora e bibliotecária Marisa Motta Ravanello, que me recebeu para um encontro do Adote.
O caso se deu quando a Marisa trabalhava na Chapéu do Sol, uma escola pública de Belém Novo, onde também já estive fomentando leitores e apegos, desses que nos relançam. A mãe de uma criança de 7 anos tinha mandado o filho para a casa de uma tia, no centro da cidade.
Levou-o ao ponto de ônibus, na faixa de terra batida, deu todas as instruções ao rebento, mas algo falhou na comunicação. O menino desceu no ponto errado e ali se perdeu completamente. Tentando se achar, andou a esmo pela cidade, indo parar na Medianeira, onde seu choro prolongado foi acudido por um policial.
– Qual o seu nome? – perguntou o homem
O nome ele sabia, mas não o sobrenome.
O mesmo valia para o da mãe e do pai; o bairro em que morava, nem isso. O policial também ficou meio perdido e pensou em acionar o conselho tutelar. Nesta hora, foi orientado pelo menino que falou com voz bem firme:
– O nome da minha professora eu sei completo.
Pronunciou-o inteiro, seguido do da escola, a quem o policial contatou de imediato. Foi atendido pela orientadora e daí a ser levado de volta para casa foi esperar a primeira viatura disponível.
O relato da Marisa me pareceu substantivo e dispensa explicações interpretativas, onde qualquer adjetivo sobraria. Ainda assim, arrisco alguma redundância para encerrar dizendo que, entre as histórias oferecidas por uma escola, nenhuma supera a da sua própria importância na vida de muitos de nós.
Corrigindo, ao modo de um professor: na de todos nós.