Todas as inovações surgiram de necessidades. Se olharmos o processo histórico de revoluções trabalhistas e mudanças drásticas de mercado, veremos que majoritariamente todas as transformações foram dolorosas, com representantes clamando a manutenção do sistema que vigorava, e resultantes da necessidade de aperfeiçoamento do processo de produção, desde um sapato até um automóvel. Estamos diante de uma possível revolução de outro processo produtivo. A diferença é que agora não afetará fábricas, grandes produções. A revolução será da criatividade. O avanço da Inteligência Artificial poderá reduzir o tempo de criação de materiais gráficos e peças publicitárias, jornalísticas, de forma que não haverá como o atual modelo ser mantido. Como, por exemplo, já foi necessário fotolito, rotativas e todo um equipamento específico para realizar uma impressão, hoje temos impressoras em nossas casas.
Todos já fomos impactados com imagens produzidas por Inteligência Artificial (IA), mesmo que não saibamos. Mas antes de entrarmos nesse ponto, é importante esclarecermos que essa tecnologia é nova, porém já está presente no dia a dia de todos. O sistema de automação das casas, que permite desligar luzes, abaixar cortinas e ligar o ar-condicionado com comando de voz, é feito com base em IA. Sabe quando, magicamente, o serviço de streaming acerta qual filme queremos ver? Isso é Inteligência Artificial. Ainda temos serviços que são essenciais, como por exemplo os aplicativos de GPS, que nos avisam sobre engarrafamentos e acidentes, e as câmeras de vigilância policiais que conseguem reconhecer faces e encontrar pessoas procuradas.
Tendo isso em vista, também é fundamental eliminarmos o aspecto vilanesco desta tecnologia. A Inteligência Artificial não é uma inimiga que irá causar a “revolta dos robôs” nem nada do tipo. Não deve ser instaurado medo sobre uma invenção que tem como objetivo facilitar a vida de todos. O que é preciso é se debater e ter o devido receio, que é necessário para o aperfeiçoamento e a utilização saudável de uma tecnologia.
Onde está o perigo disto para o mercado? O uso da IA pode rapidamente descredibilizar profissionais das áreas da criação e comunicação, além de reduzir o número de colaboradores necessários para a realização de uma tarefa. Esse movimento impacta diretamente em diversos segmentos do mercado. Além do claro desemprego de profissionais graduados e com formação, também gera uma desvalorização da academia nestes segmentos, reduzindo também o número de professores, cursos e, consequentemente, ainda interfere negativamente na remuneração média de uma profissão.
Para ser mais claro, trago um exemplo. Por qual razão um jornal irá manter empregado três profissionais se somente um consegue adicionar as informações em um software e em 20 minutos ter as mesmas três matérias que seriam produzidas inicialmente? E ainda, valerá a pena uma agência de publicidade ter designers, redatores e publicitários se é possível colocar palavras-chave, solicitar uma criação e em instantes a Inteligência Artificial entregar o material?
Esse é o perigo da dependência de uma tecnologia. A revolução do criativo está na nossa frente. Os efeitos, além dos mercadológicos citados acima, será uma pasteurização de conteúdos em que tudo será mais do mesmo. Pois a delicadeza e sutileza do ser humano é muito difícil de ser replicada. Afinal, temos fábricas ao redor do mundo produzindo um milhão de cadeiras por hora, mesmo assim ainda temos o artesão que produz uma cadeira em uma semana e ele ainda tem seu mercado. Ou seja, o trabalho que hoje é feito será um luxo que poucos profissionais farão. Pense nisso!
Foto da Capa: Antoni Shkraba / Pexels