Agripina reinou entre 49 e 54 d.C. A imperatriz é bisneta do Imperador Augusto (reinou de 27 a.C até 14 d.C.), irmã de Calígula (reinou entre 37 e 41 d.C.) e mãe de Nero (reinou de 54 até 68 d.C.). Obviamente que o imperador Nero também governou o Império Romano com mão de ferro, como toda/o e qualquer totalitarista. Dos impérios brutais até as formas plurinacionais contemporâneas em algumas partes da América do Sul (Equador e Bolívia), as sociedades enfrentam desafios gigantescos quando se trata de eleger seus representantes governamentais de forma (minimamente) democrática.
Ano: 2023. “O planeta está fervendo” (era of global boiling), secretário-geral da ONU, Antonio Gutierres. Essa frase está enquadrada na completa falta de ações ou das omissões criminosas contra a humanidade. As guerras climáticas e ideológicas avançam. A ONU está falida e os Estados-nação também. Lideranças brutais (homens e mulheres) estão no comando.
Não fosse a emergência climática na qual todas as sociedades do planeta estão inseridas, os problemas da humanidade ainda assim seriam gigantescos. E, sim, os efeitos da atual mudança climática é real — ver as últimas publicações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ou Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas / IPCC, 2023. Hoje, há também todo tipo de barbárie sendo produzida à queima-roupa. Cito as guerras. Seja a guerra entre Rússia e Ucrânia, seja entre Israel e Palestina, as guerras ideológicas se fundem com guerras climáticas.
Na Europa, personagens como Robert Stuhlmann da AfD (Alternativa para a Alemanha / Alternative für Deutschland) começam a vencer eleições — as últimas eleições regionais em junho de 2023 foram vencidas pelo seu partido de ultradireita. E não, não é patriarcado, na Itália temos a primeira-ministra Giorgia Meloni (foto da capa – do Partido Fratelli d’Italia) e na França a força-motriz de Marine Le Pen, membro da Assembleia Nacional Francesa. Ideologias pautadas em um conjunto de ideias (nada) libertárias: nacionalismo-raiz, conservadorismo seletivo, políticas de limpeza étnica e outros pacotes ideológicos destrutivos. Na América do Sul, outro personagem distópico emerge: Javier Milei na Argentina. Essa figura aparece com uma motosserra nas mãos para convencer os eleitores. Isso sem mencionar uma lista de mulheres aderentes a essa distopia ideológica no Brasil: Damares Alves (Republicanos), Tereza Cristina (Partido Progressistas), Beatriz Kicis (Partido Liberal) entre outras (como as atrizes Cássia Kis e Regina Duarte).
O nacionalismo-raiz tem como âncora a lógica da aniquilação do outro — qualquer ser humano que não seja nascido localmente e puro deve ser destruído independente da sua cor de pele, religião, crenças ou valores intrínsecos). Já o conservadorismo seletivo tem a premissa de que a ideia de relacionamento amoroso somente pode ocorrer na lógica dual, ou seja, entre homem branco cis e mulher branca cis — e o restante dos inúmeros gêneros é simplesmente ignorado. E mais, é criada uma narrativa de “ideologia de gênero”. Todo o universo LGBTQIAPN+ é negado de ser vivido. Quem não aceita a diferença é neo-nazifacista. Precisamos nomear de modo cada vez mais adequado essas pessoas e suas ideologias de destruição.
No último final de semana ocorreu a eleição presidencial na Argentina. Esta coluna foi escrita enquanto argentinas e argentinas estavam colocando suas ideologias e utopias nas urnas. Vale lembrar que Javier Milei (da coalizão A Liberdade Avança) se autodenomina de anarcocapitalista e um negocionista climático — em outros termos, ele deseja Capital Acumulado para a Elite e Apocalipse Climático para o restante. A liberdade avança. Para quem?
No fim do dia, talvez vejamos nosso planeta em chamas da barbárie nua e crua, como os romanos presenciaram quase 2.000 mil atrás. Quando a História e a realidade são negadas ou invisibilizadas, quem paga a conta são os mais vulneráveis, ou seja, os 99%. A elite (1%) buscará de todas as formas, atualmente de forma brutal, a se manter no poder e tomar decisões pró-capital e individualista — nunca decisões pró-dignidade para todas e todos. Às cidadãs e cidadãos nas regiões de guerras ideológicas/climáticas como na Ucrânia e na Palestina espero que não sejam ainda mais incinerados por bombas lançadas por figuras da destruição moderna. Ao fim e ao cabo, nunca fomos modernos nem humanos — é a banalidade do mal acima de tudo.
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Leituras indicadas para esta semana:
- LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Editora 34, 1994.
- ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: uma reportagem sobre a banalidade do mal. Coimbra: Ed. Tenacitas, 2003.
Foto da Capa: Reprodução Youtube