Certas dobradinhas são malditas. Convém evitá-las. Até a mais sábia das sabedorias, como a popular, sabe disso. Quem já não passou mal juntando melancia – ou manga – com leite? Ou lavando os cabelos nos primeiros dias depois da menstruação. Dessa, felizmente, eu fui poupado. Mas não de outras como aquela de juntar hipocondria com dar um Google. Ah, os efeitos costumam ser nefastos…
Adito da Internet, como hoje mais de noventa por cento da população (dado científico), eu estava teclando no celular. E, como todo adito, precisava uma boa justificativa para o vício. Aleguei ao meu Superego que se tratava de procurar caminhos para melhorar a minha qualidade de vida. E se tratava mesmo. Foi quando cheguei a um artigo (científico) dos mais terríveis que me abateu em anos recentes. Artigo sério, site sério, com direito à difusão em revistas de qualis altas.
O dito cujo provava com pouco espaço para contestações que cada salsicha ingerida, ao longo da vida, reduzia-a em quarenta em cinco minutos. Gelei. Pânico imediato. A única coisa que sobrava para ser explicada eram as razões de eu continuar vivo depois de tanta salsicha nesta vida. As explicações talvez estivessem no próprio artigo, pois, em contrapartida, cada ingestão de nozes aumentava a vida em trinta em cinco minutos. Como dizia o mestre, ledo ivo engano. Na alimentação de qualquer sujeito normal (mesmo um adito) são incomparáveis as ingestas de nozes e salsichas.
A pesquisa aprofundava as suas hipóteses, eu é que já não tinha mais condições de pensar sobre elas. Cheguei a achar que estivesse lendo já do outro lado da existência e, por isso, captei outro dado lancinante: cada grama de salsicha abatia três quartos de minuto da existência. Nem precisava fazer cálculos. Das duas uma: morto estava ou morreria em breve.
Felizmente, tudo tem um fim (como a vida) e isso inclui dar Google. Saí do vício e fui ouvir música, lembrando de uma outra pesquisa (séria) que atestava o quanto a alegria e a realização de tarefas prazerosas poderiam prolongar a vida. Sem acesso a esse trabalho, não podia fazer uma meta-análise comparando tempos ganhos com tempos perdidos. Quanto ao assunto, este ecoou durante os próximos dias, incluindo uma congestão em decorrência da ingesta excessiva de nozes, além de uma tarde inteira ouvindo Chico César, o que deu direito a um cachorro-quente do Rosário. Com três salsichas e zero cálculo dos minutos deixados para trás.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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