Lendas, casos, histórias de vida e de morte, encontros, exílio. Casas deixadas pelos caminhos. Moradias abandonadas. Novos lares. Bênçãos, pragas, danças, andanças e cantorias. Assim, Vrum e Luba alimentam suas memórias na peça de teatro Terra sem Mapa. No palco, os atores Sérgio Lulkin e Mirna Spritzer vestem os personagens e se transformam em viajantes de um tempo imaginado, perambulando pela “terra sem mapa da memória”. Uma terra fértil por tudo o que se vê em cena e pelas emoções que provoca neste meio do ano de 2023, depois de tantas tempestades.
O reencontro dos atores aconteceu em 2021, em plena pandemia do coronavírus. Um tempo em que fomos acompanhados pela solidão, pelo medo, pela morte, pelas perdas inesperadas sem os rituais de despedidas tão necessários da nossa cultura. Por conta do isolamento, eles se reuniam no Parque da Redenção e iam construindo juntos o texto que queriam levar para o palco. Em um cenário real, tiravam as máscaras, escreviam e assumiam personagens que conversavam sobre tudo, especialmente sobre as histórias das imigrações que carregamos nos nossos rincões internos e externos. Um universo de pessoas que se arriscaram para chegar aos novos mundos onde, talvez, fosse possível a vida, o alimento e a esperança. Quem sabe, o futuro.
Na plateia, imediatamente minha memória foi acionada. Impossível não lembrar das peças do Teatro Vivo de Irene Brietzke, grupo do qual Mirna fez parte de 1979 a 2001 e do Grupo Tear de Maria Helena Lopes, onde Sérgio atuou entre 1980 e 2002.
Os pais de Mirna eram imigrantes. Os avós de Sérgio também. O mundo é feito de gente que precisa deixar suas casas, suas famílias e andar. Pegar estradas desconhecidas, atravessar campos e oceanos para construir uma vida nova. E foi olhando para este universo feito de despedidas, realidades de ontem e de hoje que dizem tanto de nós, que eles foram escrevendo a peça. E a volta aos palcos após os quatro anos de abandono que vivemos, com perseguições absurdas à cultura, é uma maneira de recuperar e abraçar a arte, abraçar o público. E celebrar.
Humor e melancolia. Movimento e pausa. Olhares. Histórias de viajantes, de gente que precisou migrar, precisou partir, cruzar fronteiras, oceanos, muros, paredes, para encontrar um novo lar. Respirar. Recomeçar. Vrum e Luba contam suas aventuras e falam de suas lembranças. A dupla carrega a vida que pulsa amparada pela memória que estimula o caminhar. Às vezes frenético e barulhento. Às vezes contido, lento e silencioso.
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Terra sem Mapa ficou em cartaz de 22 de junho a 2 de julho na Zona Cultural (Av. Alberto Bins, 900). E volta nos dias 14 e 15 de julho, no Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Av. Independência, 75). Uma experiência imperdível para quem gosta de teatro. Recomendo muito.
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Sinopse
Apaixonados por Teatro, Vrum e Luba resolvem fazer um espetáculo. Em cena, eles revivem lendas e casos e narram histórias de vida e de morte, de exílios e encontros, de casas deixadas para trás e de novos lares. Entre bênçãos e pragas, dançam as lembranças e miram as estrelas. Viajantes de um tempo imaginado perambulam pela terra sem mapa da Memória.
Ficha Técnica
Criação e Atuação: Mirna Spritzer e Sergio Lulkin
Colaboração Artística: Carlos Mödinger
Figurino: Rô Cortinhas
Iluminação: Ricardo Vivian
Operação de luz: Ricardo Vivian e Fabi Santos
Trilha sonora original: Gustavo Finkler
Operação de som: Luiz Manoel e Fabi Santos
Identidade Visual: Leandro Selister
Fotografia: Adriana Marchiori
Assessoria de imprensa: Bruna Paulin – Assessoria de Flor em Flor
Produção: Mirna Spritzer, Renata Stein e Sergio Lulkin