Quando a gente acha que já viu de tudo, lá vem a indústria da moda e mostra como a gente é inocente.
Mês passado teve a pulseira que parecia um rolo de durex transparente, da marca Balenciaga. A tal era vendida, especula-se, por 16 mil reais. Agora temos a grife Jordanluca, da qual nunca tinha ouvido falar, e que te entrega uma calça que já vem com marca de mijado na virilha e traseiro. O preço de venda é de aproximadamente 4 mil reais, e esgotou nas vendas online.
Não sei se as marcas fazem isso pra causar e viralizar nas redes sociais, ou realmente alguém planeja um produto desses. Ou os dois, planejam pra causar e vender uma ilusão de exclusividade com um selo de qualidade e aprovação imaginários e duvidosos.
Eu já gastei um dinheiro que não podia naquele momento pra comprar uma calça que eu queria muito. Não era de marca nem tava na moda. Eu simplesmente passei de ônibus na frente de uma loja de bairro e fiquei namorando aquela calça na vitrine por vários dias, até o dia em que ela sumiu. Foi quando desci do ônibus só pra ver se ela ainda estava à venda, quanto custava. Meu salário de estagiária não permitia, mas depois que vesti a maldita me senti tão bem que fiz meu primeiro carnê na vida e paguei em sei lá quantas prestações. Depois disso, continuei gostando de roupas e acessórios e afins, mas como sempre fui esquisitinha, não comprava nada que estava na moda ou nas propagandas. Quanto mais diferente do que estava na moda, melhor.
Mesmo achando que era original e imune às tendências e à moda, hoje tenho consciência que o meu estilo pessoal não é original. Nenhum de nós é imune ao pega-ratão da moda, seja de que jeito for. Mesmo quando não seguimos o que está na moda estamos envolvidos nela de alguma forma, porque a moda também é isso, não seguir a moda.
E quem compra o que está na moda? Bom, esse nem sempre compra porque acha algo bonito. Os motivos reais variam de pertencimento a um grupo, ou de ser vista como diferente por outros grupos, mas às vezes serve pra mostrar que “tô podendo” comprar e pagar por esse item. Tem também quem ache que acha algo bonito de verdade, sem perceber que o que a gente acha bonito ou não, também é influenciado pela moda e também muda. Quem diria que as pessoas que arrancavam até o ultimo fio da sobrancelha pra deixar ela beeeem fina, iriam gostar de ter sobrancelha que parece pintada a carvão, muitas vezes torta de um lado ou de outro, e tudo isso pra ficar com cara de frente de Camaro?
Eu gosto de roupas e afins, e não sou contra a moda. Sou é antimoda-uniforme, onde todo mundo faz tudo igual ou visivelmente copiado. Sou contra o fast-fashion, com seus artigos descartáveis e poluidores. Sou mais contra ainda as propagandas e desfiles com os corpos nada realistas das modelos, que nos fazem acreditar que aquela roupa modelada e planejada para vestir um cabide vai ficar bem na gente, com nossos corpos lindamente reais e imperfeitos.
Eu gosto de roupas, especialmente das duráveis, bem feitas e com preço justo. Daquelas que eu possa usar por décadas e ainda me sinta bem dentro delas. Tente fazer isso, compre menos quantidade de roupas e de melhor qualidade. Use o que te faz sentir verdadeiramente bem, através dos seus olhos e não pelos olhos dos outros.
Aprecie o conforto. Hoje em dia a minha roupa preferida é incrivelmente confortável, tem cara de pijama e tem uma camisa velha e furada compondo o visual. Exatamente como as grifes anunciaram que vai ser o próximo hit do inverno. Posso então finalmente dizer que sou pobrinha, mas tô na moda!
Foto da Capa: Reprodução TikTok
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