Em um mês perdi duas amigas repentinamente. Ambas mulheres ativas, cheias de energia, projetos, propósitos, em pleno voo. A experiência do luto da morte nos coloca frente a nossa própria finitude e suas várias implicações. E esse foi meu movimento e dos tantos que comigo estiveram conversando a respeito da partida delas, que se foram muito antes do que se esperava.
A morte como tabu
Independente de religião e crenças, a morte é uma parte da vida. Sabemos que todos vamos morrer um dia, mesmo assim, é comum ignorarmos a finitude enquanto estamos num cenário de saúde. Na verdade, vivemos num sistema de quase apagamento do assunto, até mesmo quando em cenário de doença. E mesmo nele queremos sempre acreditar que há esperança e que devemos lutar, lutar e lutar, sem pensar que a morte é um dos cenários possíveis e que pra ele também precisamos nos preparar.
Preparação para a morte – deixar dito o que deseja
Enquanto filha tentei conversar com a minha mãe sobre sua finitude e desejos. No entanto, ela sempre se negou. E respeitei a sua vontade. No hospital, quando seus médicos disseram que ela estava em seus últimos momentos e nos perguntaram sobre a colocação de sondas e outros equipamentos para o alongamento da sua vida, respondemos que não, com base no que imaginamos que ela desejaria, já que nunca tinha nos orientado. Gosto de pensar que foi a decisão certa. Mas, sinceramente, preferiria ter tido a orientação dela. Pra que isso não aconteça comigo, já deixei minhas instruções com as filhas, amigas, irmãos, marido… todos estão bem avisados a respeito dos meus desejos e vontades.
Cuidado paliativo é sinônimo de conforto
Ao contrário do que popularmente se pensa, Cuidados Paliativos não se tratam de algo apenas para quem está em estado terminal, incurável. A Organização Mundial da Saúde – OMS aponta os cuidados paliativos como a “assistência que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”.
Paliativistas não são apenas médicos, são especialistas nessa modalidade de cuidado. O cuidado é feito com o núcleo paciente-família, sendo os acompanhantes aqueles que confortam a pessoa a fim de aliviar o sofrimento.
Os mecanismos cerebrais de enfrentamento, em geral, são lentos e o tempo, sendo pessoal, precisa ser levado em consideração nesse momento, por isso é tão importante iniciar o cuidado paliativo o mais cedo possível. O profissional paliativista proporcionará consciência, orientação, conforto. Para atingir esses propósitos, os Cuidados Paliativos seguem os seguintes princípios:
- Alívio da dor e de outros sintomas estressantes.
- Reafirmação da vida e percepção da morte como processo natural.
- Não antecipar nem postergar a morte: respeitar o tempo.
- Integração de aspectos psicossociais e espirituais ao cuidado: a complexidade da tomada de decisões se torna facilitada quando se tem um grupo dividindo o auxílio; mas sem colocar uma separação nas funções, limitando o que cada um pode ou não realizar.
- Oferecer um sistema de suporte que auxilie o paciente a viver tão ativamente quanto possível, até a morte.
- Oferecer um sistema de suporte que auxilie a família e entes queridos a sentirem-se amparados durante todo processo da doença: lidar com angústia, desinformações e dificuldades, compreendendo que eles também são responsabilidade da equipe multiprofissional.
- Iniciar o mais precocemente possível, junto a outras medidas de prolongamento de vida.
Celebrar a Vida
Um dos aprendizados que tive ao refletir sobre a morte é o quanto a vida é valiosa e vulnerável. Hoje estamos aqui, amanhã sabe-se lá onde? Então, simplificar mais, amar mais, rir mais, abraçar mais, falar eu te amo mais vezes, ser mais fiel a mim mesma, valorizar o tempo entre os que amo e que me fazem bem. O legado que deixamos são as nossas atitudes.
Íris Apfel
Quero celebrar a vida de Iris Apfel, empresária, designer de interiores e ícone da moda estadunidense, que neste 29 de agosto completou 102 anos! Quando muitos imaginam que uma pessoa nessa idade estaria “as portas da morte”, ela está produzindo e influenciando 2,8M de pessoas no mundo. Adorei a mensagem que deixou no seu instagram: “Envelheça, mas não fique chata. Fique confortável fora da sua zona de conforto. Não deixe de ser ousada ou de se divertir. Seja selvagem!”