Não aguenta mais ouvir falar em bebê reborn? Nem eu, mas mesmo assim, essa explosão demográfica é o assunto de quem não quer se preocupar com coisas mais importantes, e consequentemente está viralizado, no mais contagioso sentido possível.
Eu vou facilitar a sua vida e fazer um resumão, tipo ChatGPT, mas feito por uma humana.
Os bebês reborn são uma moda dos anos 90 que, como todo ciclo de produto e marketing envolvido, teve seu baby boom, declínio e caiu no esquecimento. O porquê do retorno triunfal ninguém sabe, temos apenas diferentes palpites de psicólogos, sociólogos, políticos, antropólogos, jornalistas, e os experts mais qualificados, os comentaristas de internet e as tias do zap.
Parecendo uma cruza entre Inteligência Artificial e o brinquedo assassino Chuck, os bonecos hiperrealistas têm a intenção de reproduzir um bebê, mas sem o comprometimento, as dores e delícias de uma criança: choro, primeiro dente, fraldas e mais fraldas, crescimento, preocupação, amor dado e retribuído com altos e baixos.
Nos Estados Unidos, um segmento desses bonecos é usado didaticamente em algumas escolas de segundo grau. Os alunos têm que conviver por 24 horas com um bebê que chora em horários aleatórios, precisa ser alimentado e ter a fralda trocada, e só pode ser cuidado pelo aluno/tutor que está com o chip pulseira naquele dia. Ou seja, excelente para um choque de realidade, educação e prevenção sobre sexo seguro e, especialmente, acabar com o mito de que só a mulher tem obrigação de cuidar do bebê, pois todos na classe têm que passar pela experiência.
Voltando à febre brasileira, encontrei relatos de tudo que você imagina envolvendo os reborns: chá de revelação, simulação de parto, maternidade, briga pela guarda por causa da monetização da conta do bebê nas redes sociais, influencers lucrando (sempre eles), classes sociais (bebês caros de silicone não brincam com os baratezas de plástico), fofoca entre grupos de mães, encontros no parque, padre negando batismo, uso para furar fila, ida ao hospital para consulta e projetos de políticos para regulamentar, multar, oferecer ajuda psicológica ou comemorar essa confusão toda, como o Dia da Cegonha Reborn, projeto de lei para homenagear as pessoas que confeccionam os bebês no Rio de Janeiro.
Os motivos para ter um bebê também variam. Tem o suporte emocional para um momento de luto (que deve ser passageiro e acompanhado por um profissional de saúde mental), tem a vontade de um adulto de brincar e sabendo que isso é um brinquedo, e tem o pessoal que leva a sério e precisa, sim, de ajuda psicológica porque tá misturando a ficção com a realidade. Quase como os namoros totalmente virtuais e surreais e a vida que se vive só para as redes sociais, que evidenciam uma solidão nada sadia.
Tem, por motivos óbvios, mais gente ridicularizando do que analisando seriamente esse berçário. Mas uma das coisas que encontrei foi a comparação entre o brinquedo adulto para homens e mulheres. Não se acha totalmente estranho que um homem passe horas e horas jogando numa tela ou vestido de Darth Vader numa ComicCon, mas achamos extremamente estranho uma mulher adulta que queira brincar de boneca. Tudo bem que o Darth Vader é menos assustador que o boneco Chuck, e que o vício em videogames também é considerado um comportamento nocivo à saúde física e mental. Mas que aceitamos mais que os meninos grandes brinquem do que as meninas, não podemos negar.
O melhor mesmo pra Anna GPT foi o compilado de memes e trocadilhos. A Dra. Rosangela diz que o bebê reborn vai virar manequim da Renner quando crescer. O Felipe de Vargas pergunta se a pensão alimentícia de um reborn é paga com dinheiro do Banco Imobiliário. Várias pessoas se oferecendo para ser babás de reborn, com referência e carteira assinada. Enfim, o brasileiro sendo brasileiro: caiu na rede, nasceu um meme.
No final, só penso que se alguém quer brincar de boneca, deixa brincar. Não sei quem está mais fora da realidade, os que brincam, ou os que discutem isso como se fosse mais importante do que as guerras, o aquecimento global e a desigualdade social. Do jeito que tá, tenho medo da próxima polêmica que vamos parir.
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Foto da Capa: Reprodução do Instagram