Entra governo, sai governo, pesquisa vai, pesquisa vem e uma palavra está sempre – e cada vez mais – presente nas análises de desempenho do presidente da República individualmente e do governo todo: comunicação. Este ano, a comunicação está até dividindo as atenções com outras duas: polarização e articulação.
Para alguns, é a polarização política que complica as coisas. Para outros, falta articulação. E todos – como acontece em todos os momentos de alguma dificuldade nas relações governamentais – atribuem a erros de comunicação os obstáculos que o governo Lula enfrenta para executar o programa que ganhou a eleição, bem representado naquela foto da subida da rampa do Palácio do Planalto.
Mas o que, realmente, atrapalha mais a gestão do País? A polarização ou a fragmentação partidária? O Brasil tem 33 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Haja ideologia, não? Desses partidos, 21 têm bancadas na Câmara dos Deputados e 12 estão representados no Senado. Onze partidos elegeram governadores de estados. Ministros de nove dessas legendas ocupam gabinetes na Esplanada dos Ministérios.
Essas organizações– com raras exceções – são, na verdade, mais grupamentos de defesa de interesses regionais, classistas e até pessoais do que partidos políticos com cultura e propósito bem definidos e foco numa agenda de Nação.
Claro… na eleição presidencial tivemos polarização entre os que não queriam mais Bolsonaro e os que não queriam Lula de volta. Lula ganhou a terceira eleição (deixo pra lá a vitória indireta com Dilma) com o apoio popular que tem desde 2002 somado aos votos de quem não queria mais Bolsonaro no poder. No final, a soma dos anti-Bolsonaro com os pró-Lula é maior que a soma dos anti-Lula com os pró-capitão. A diferença é pequena. Menos de 2 milhões de votos. E agora já se vê que os pró-Bolsonaro e anti-Lula não são tão pró nem tão anti assim… Pesquisas recentes mostram que 41% dos bolsonaristas de 2022 já aprovam o governo Lula…
O presidente da República, portanto, superou a polarização. Mas as legendas que o apoiaram perderam feio a eleição para o Congresso Nacional. Os partidos de esquerda (PT, PCdoB, PSOL,PV e Rede) elegeram apenas 94 deputados. E Lula precisa buscar apoios no centro e na direita.
E aqui eu junto comunicação com articulação. Como criar uma política de comunicação que articule todas as facções em que se divide a maioria dos partidos, fracionados até na hora de indicar ministros? Como executar uma agenda de Estado com um Congresso que se move muito mais com o combustível das emendas secretas do que levado pelo vento do interesse nacional?
Enquanto tivermos o parlamento esfarelado como o que temos hoje, a negociação política vai se dar assim: no varejo do dia a dia. O governo libera uma emenda aqui, outra ali e vai levando. E as grandes prioridades vão ficando meio de lado. Agora mesmo, está para ser votada a reforma tributária. Há 20 anos, por aí, se fala da necessidade de uma mudança profunda no sistema tributário. Mas, na hora de votar, cada setor tem um “mas” logo depois de uma declaração de apoio. O setor de serviços apoia, mas afirma que não pode ser penalizado com aumento de impostos, os estados produtores apoiam, mas alegam que vão perder renda, os estados menores também apoiam, mas dizem que não aceitam perder arrecadação..
Enquanto isso, o consumidor – pagador dos impostos – sem poder de voto no Congresso, fica só torcendo por algum alívio da carga tributária que pesa tanto no seu bolso e dizendo “mas” não esqueçam senhores deputados e senadores, vocês só estão votando a reforma tributária porque nós votamos nos senhores…
Foto da Capa: Reunião da Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional / Agência Brasil