Quem nunca se perdeu em um dos corredores de lojas de utilidades domésticas, cheias de produtos de plástico? Ou em uma farmácia, com frascos de diferentes formatos? E supermercado então, qual o lugar onde não há derivados de petróleo? Pois então, a vida sem plástico hoje é praticamente impossível.
Só que boa parte do que compramos, comemos ou usamos e depois descartamos, acaba gerando impactos negativos que ultrapassam fronteiras. Principalmente se onde moramos não conta com um serviço decente de coleta, de separação para a reciclagem e destinação final.
Pois nessa cadeia, desde a geração do insumo até o seu fim (aliás, ele não desaparece, pois não é orgânico, não é algo da natureza) as diferentes versões de plástico estão deixando rastros. Torço muito para que polímeros biodegradáveis de todos os tipos estejam à disposição de todos o quanto antes. Para isso, os governos precisam investir pesado em pesquisa.
Poluição por plástico é a ponta do iceberg
A poluição por plástico é uma ponta de um iceberg do quanto nosso modo de vida inconsequente está gerando doenças, afetando ecossistemas e trazendo uma infinidade de situações impensáveis pouco tempo atrás. É uma preocupação comum entre empresários, industriais (confira a Revista Plástico Sul), cientistas, ambientalistas, médicos e todo mundo que se depara com resíduos no seu cotidiano. Basta dar uma volta a pé pelas ruas de Porto Alegre para encontrar inúmeros tipos de resíduos.
Difícil encontrar algum lugar do planeta sem um resquício desse material que é tão útil, mas que carece de cuidado por vários lados de uma sociedade, de governantes que ainda não acordaram para a gravidade do tema.
A responsabilidade pelos resíduos sólidos é compartilhada. A gestão é do município (aliás, vale lembrar que o gerenciamento dos resíduos está entre os maiores gastos de uma administração), mas a indústria e o consumidor também têm sua parcela de culpa nesse caos em que estamos passando.
A cada dia novas embalagens
O plástico é um dos tantos subprodutos que derivam do petróleo. E a cada dia, um novo tipo de embalagem é lançada no mercado. Na pesquisa de doutorado da engenheira Joice Pinho Maciel, uma das fundadoras da Apoena, foram levantados dados que evidenciam a necessidade de se tomar medidas para a redução de plásticos de uso único. Joice, é manauara, pesquisadora do Núcleo de Caracterização de Materiais (NuCMat) do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da Universidade do Vale do Sinos (Unisinos) e também sócia da Awty Guardiões dos Rios, uma startup que tem objetivo de reduzir os impactos dos resíduos sólidos nos rios da Amazônia. Confira a matéria da pesquisa, com dados inéditos, que fiz para o EXTRA CLASSE.
Enquanto consumidores temos nossa parcela de responsabilidade em optar por produtos com embalagens mais amigas do ambiente (e das futuras gerações). Também devemos pressionar a indústria, os supermercados, os restaurantes, todos os lugares onde frequentamos pelo uso mais consciente do plástico. Eu, por exemplo, me nego a tomar cafezinho ou chá em copinho descartável. Além de não ser nada saudável colocar líquido quente no plástico, esse tipo de recipiente não deve ser oferecido em lugares que tem o mínimo de preocupação ambiental.
Qual é o sentido a gente se preocupar tanto com a educação e a saúde dos filhos e comprar tanta coisa de plástico que vai virar um passivo ambiental para eles no futuro? O pior é que boa parte das fibras sintéticas de roupas no desgaste do uso e da lavagem geram microplásticos. Esses tempos estava vendo um varal contra a luz. A corda estava se desmanchando e gerando milhares de micro partículas que estavam sendo levadas pelo vento.
22 de abril, dia da Terra
A edição do dia 22 de abril – dia da Terra -, do O Globo, trouxe um caderno especial sobre a poluição plástica. E apresenta dados que já são sabidos por cientistas: as nanopartículas dos derivados de petróleo já foram encontradas na nossa corrente sanguínea. Até no cérebro! E isso explica muitos casos de câncer e AVC.
Depois que comecei a conviver mais com pessoas que pesquisam sobre resíduos, com catadoras que vivem da venda de recicláveis, com gente que se preocupa com o “estado da arte” no POA Inquieta Resíduos, minha percepção sobre esse tema ampliou de um jeito que simplesmente hoje penso três vezes antes de comprar algo supérfluo de plástico. O contexto é tão complexo quanto o da crise climática, implica mudanças de paradigmas.
E agora, que estou trabalhando para a Aliança Resíduo Zero Brasil, estou conhecendo o quanto há gente empenhada em tentar diminuir o impacto desses materiais. Nesta semana, está acontecendo até o dia 29, em Ottawa, no Canadá a penúltima rodada de negociações do Tratado Global Contra a Poluição Plástica, (mais conhecida como INC-4, em sua sigla em inglês).
Para o evento, ambientalistas, cientistas, representantes de diversas organizações prepararam um Manifesto que foi enviado a diversos órgãos do governo federal, para que o Brasil assuma sua parcela de responsabilidade sobre a poluição por plásticos. O País pode contribuir mais para que esta resolução seja um instrumento eficaz e em seu propósito de reduzir a sujeira provocada por esse tipo de material.
O Manifesto, que já conta com a adesão de mais de 80 organizações da sociedade, chama a atenção para a ampla gama de impactos negativos que a poluição plástica provoca. Traz danos ao meio ambiente, à segurança alimentar, à economia e ainda agrava a crise climática. Virou caso de saúde pública planetária. A Organização das Nações Unidas está preocupada com esse assunto.
Cientistas encontraram partículas de plástico na corrente sanguínea, na placenta, em fetos, no pulmão e em diversos outros órgãos vitais humanos. Estudos demonstram que os microplásticos aumentam o risco de ataques cardíacos e AVCs, e que têm efeitos nocivos ao sistema endócrino, imunológico, renal e respiratório, podendo causar câncer e danos neurais.
Então, que tal repensar a próxima vez que vai comprar ou usar algo de plástico?
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Foto da Capa: Reprodução de O Globo