Vi o trio de músicos da banda Os Paralamas do Sucesso no programa O som do Vinil, apresentado pelo Charles Gavin, baterista dos Titãs, no Canal Brasil. A pauta era sobre dois de seus discos, um relançado e outro com inéditas, ambos vinil.
Antes de mais nada, é sempre uma emoção ver o Herbert Vianna falando, cheio de memórias e ideias, depois de tudo pelo que ele passou, ficando um tempo entre a vida e a morte depois de seu acidente no auge da carreira. Hoje ele toca sentado, pois ficou impossibilitado de caminhar. Relatou que, dessa posição nova, ele tem um ângulo do qual enxerga melhor o rosto da plateia e se alegra de ver tanta gente que nem tinha nascido quando foram compostas as canções da banda, mas que cantam todas as letras.
Herbert falou também de como começou o grupo. Ele já tocava guitarra em Brasília, onde tinha vários que poderia chamar para tocar com ele. No entanto, sua família teve que se mudar para o Rio de Janeiro, onde não conhecia ninguém. Um tempo depois, no cursinho pré-vestibular, encontrou seu amigo Bi Ribeiro, que também tinha ido como ele para o Rio.
Louco para fazer uma banda, disse a Bi que o ensinaria a tocar baixo, era só ele comprar um. A compra foi feita, e os dois logo inscreveram uma composição num festival universitário de música. Precisavam para a apresentação de um baterista.
Um amigo em comum, trouxe até eles o João Barone. Gostaram muito do seu estilo e estão juntos até hoje. Um detalhe interessante é que Barone tocava com amigos no Rio, mas durante muito tempo não tinha bateria. Desenvolveu inicialmente seu aprendizado tocando com bambu, com percussão improvisada.
Depois, o trio teve que decidir quem iria cantar. A escolha recaiu em Herbert, que até hoje frisa que não se considera um cantor, mas um vocalista do Paralamas. Canta apenas as canções da banda.
Essa história deles ilustra algo que vinha pensando sobre a criatividade. Criar não diz respeito a ter todas as condições para executar algo. Pelo contrário, é encontrar uma solução nova com o que se consegue, com o que se tem em mãos. E até com o que falta.
É claro que é preciso ter domínio, no caso da composição de uma canção, da criação de uma boa melodia, de um encontro adequado da palavra com o todo, de conhecer e executar acordes, de ritmo, compasso, etc. Mas, mesmo de posse de todo um conhecimento musical, nada garante que alguém venha a criar algo.
Caymmi, depois de criar várias das suas lindas músicas, começou a sentir falta de aprender a ler partitura, de aprofundar seus estudos musicais. Procurou seu amigo Vila-Lobos, de quem ouviu que não precisaria, pois já compunha muito bem com o que sabia. A mesma coisa lhe disse Radamés Gnattali. Pensou “bom, se o Vila e o Radamés me dizem isso, quem sou eu pra contrariar”.