Chegou a época de comemorar o stress, como se a gente já não tivesse bastante dele durante todo o ano. Pra quem é ansioso, como eu, já tá na hora de montar a árvore e mergulhar naquele caos que dura quase tanto quanto a comida do final de ano na geladeira.
Já começou comigo, quando quis escrever sobre esse período, pra ter certeza de que a minha árvore de palavras já estava montada quando todo mundo começar a falar no assunto. Nossa, já é quase Natal… Nem me fala, passou rápido demais… Os anos estão passando cada vez mais rápido, né?… Pois é, menina, isso tudo é culpa do… ah, deixa pra lá!
É a época daquela nostalgia que vai chegando, dos Natais de quando a gente era criança, ou de quando os filhos eram crianças. Ou dos Natais que a gente sonhou ter e nunca teve. Tinha amigos que eram família e se reuniam, e tinha a família que se reunia e que nunca mais se viu. Li não sei onde pela internet que a morte dos avós é o divórcio da família. É verdade, e o Natal está aí pra comprovar isso. Quem também nunca mais reuniu toda a família depois que os patriarcas morreram, põe o dedo aqui.
Onde vai ser a ceia? Quem vem? Quem não vem? Por que não vem? Mas como assim vai passar na casa da namorada? Ela que venha passar aqui com a gente. Árvore natural ou artificial? Vi uma decoração de papel higiênico linda num tutorial, acho que vou fazer. Presente pra todo mundo, amigo secreto em casa, amigo secreto de 10 reais, amigo secreto no trabalho, na escola, na academia, do pessoal que pega o mesmo ônibus junto todo dia. A festa vai ser aqui em casa, tenho que fazer uma super faxina e lavar as cortinas. Quem cozinha o quê? Churrasco, nem pensar. Ah, sim, churrasco mais ceia, mas nada será como antes, e onde tinha peru, tender e arroz com passas, agora tem panetone de sushi e assado de tofu.
Aquele tá brigado com esse, não sei se vem, e se vem, vai dar briga com o outro. Posso levar aquele meu amigo? Claro, todos são bem-vindos, mas avisa pra não trazer latão e só tomar minha cerveja artesanal. Não vai dar tempo nem dinheiro pra fazer tudo e ainda ir em todas as comemorações, confraternizações e fazer o que tem que ser feito até o dia 31. Não esquece que a gente para tudo dia 23 e só volta no ano que vem. Depois, tem que pensar em tudo que fez durante o ano, se arrepender da metade e ficar feliz com o resto. Planejar os próximos 365 dias sem ter feito o que queria desde as resoluções de 10 mil anos atrás. Cansou? Espera que tem mais, as férias, filas e obrigação de ir pra praia, além dos boletos que vão chegar.
Pois pra mim chega! Esse ano, mesmo vivendo entre a culpa do passado e a ansiedade do futuro, tenho (tentado) viver mais o presente. O final de ano não vai me pegar mais. Vou fazer o que der pra fazer, sem culpa do que não deu tempo. Não vou passar mais horas pensando no que vou servir ou comprar, a vida é mais que isso. A loucuragem que estamos vivendo no mundo é muito maior, e não vou comemorar numa loucura programada menor.
É libertador pensar que podemos fazer um final de ano diferente, cada um do seu jeito, com a sua religião, com quem quiser, como quiser, sem pressão. Ah, mas e o espírito natalino de paz e amor? Esse, nada nos impede de utilizarmos sempre e sem moderação. Ao invés de decorar uma árvore de Natal, plante uma em algum lugar. Podemos comemorar a vida e pensar no próximo em qualquer momento do ano, não apenas no caos dos últimos dias.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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