Hoje, 2 de abril, é o Dia Internacional de Conscientização do Autismo. Instituído pela ONU, a data busca informar sobre o autismo e conscientizar a sociedade e a família sobre os direitos dos autistas.
Muito embora o direito à educação seja um dos mais básicos direitos humanos e fundamental para a inclusão social, autistas passam por diversos obstáculos para conseguir frequentar a escola, sendo o bullying uma das mais perversas barreiras encontradas no ambiente escolar. Aliás, a minha coluna dedicada à data no ano passado, tratou do mesmo crime. Afinal, nunca é demais lembrar: bullying é crime!
Pedro Jailson, do perfil “Autista Falando de Autismo” lembra que:
“No ambiente escolar, onde o aprendizado e o desenvolvimento social deveriam caminhar lado a lado, crianças autistas frequentemente se deparam com obstáculos que vão além dos desafios acadêmicos. Um desses obstáculos, infelizmente, pode ser o bullying”.
Este tema volta e meia aparece na mídia, principalmente quando flagrado por câmeras. Como na matéria, publicada pela Carta Capital no final de março desse ano, que relata a agressão sofrida por uma estudante de 15 anos na escola que estudava, em Glicério, no interior do estado de São Paulo: “Estudante autista é agredida por colegas e deixada seminua em escola de São Paulo”.
Imagens obtidas pela emissora afiliada da Rede Globo na região “mostram a vítima conversando com outra menina, até o momento em que é arrastada pelos cabelos. Nesse momento, uma segunda estudante se aproxima e ambas começam a desferir vários socos nas costas da vítima. Depois, as duas arrancam a blusa da menina, deixando-a seminua na quadra da escola, onde as agressões continuam.” A cena foi assistida pelos demais alunos, muitos deles gritando ou incentivando a agressão.
Em uma recente pesquisa realizada no Canadá, 77% das crianças autistas relataram ter sofrido bullying no ambiente escolar. Pesquisas anteriores indicavam que autistas são quatro vezes mais suscetíveis a sofrer bullying que seus colegas. Em estudo semelhante realizado em Fortaleza, 63% dos alunos autistas declararam sofrer bullying, o que levou as autoras a observar que os alunos autistas, em razão de sua maior vulnerabilidade, tem maior possibilidade de ser vítimas desse crime, “o que prejudicaria sua saúde e qualidade de vida, bem como sua inclusão escolar.”
Deve ser esclarecido que a violência no bullying pode ser tanto física como verbal, além de forma indiretas como exclusão social, propagação de boatos, o assédio moral, a discriminação, o preconceito. Nos últimos tempos, tudo isso pode ser veiculado pelas redes sociais, o chamado “cyberbullying”.
Também nesse último março, a imprensa registrou outro episódio semelhante, ocorrido em Florianópolis, quando ameaças de morte foram feitas por colegas de escola contra um menino autista de 12 anos em um grupo de Whattsapp. O aluno deixou de comparecer às aulas em razão das ameaças e a Polícia investiga se ele também foi vítima de violência física.
O bullying se alimenta de um ambiente que vê com descaso as agressões sofridas pelos autistas, isso quando não responsabiliza a vítima, justificando que a violência decorre de sua “inabilidade social”.
Crime silencioso, quando é levado a público encontra seguidamente resistência de quem deveria preveni-lo. Pedro Jailson, do perfil “Autista falando de autismo” nas redes sociais, aponta que “ainda mais alarmante é quando os pais, ao tentarem intervir e buscar um diálogo para proteger seus filhos, são rotulados de “barraqueiros” ou encontram resistência que chega a beirar a agressividade.”
Segundo ele, a inação da escola frente ao aluno ou aluna que sofre bullying desaparece quando a vítima de alguma forma responde a agressão: ela é colocada na “posição injusta de vilão, quando, na verdade, ele é vítima de um ambiente hostil.”
Como diz o influencer:
“Funciona assim: a criança autista na escola sofre bullying e, às vezes, é até agredida. A mãe reclama para a direção da escola e os responsáveis pelo outro aluno. E a escola? Nada faz. Mas, quando a criança autista revida a agressão, o barraco está feito: é a diretora, a professora, a coordenadora e os pais da outra criança que “vão para cima” dos pais do autista.”
Acredito que a maioria dos autistas bem como seus familiares, pais e mães podem contar uma história assim ou já ouviram relatos semelhantes. E boa parte dos comentários a essas publicações atesta essa conclusão. Evidentemente, há profissionais e escolas que não agem assim e se tornam parceiros contra o bullying. Mas essa discussão não é estatística.
Afinal, basta uma situação para deixar marcas permanentes em um aluno. Uma agressão sofrida, um pedido de socorro que se perde na indiferença ou mesmo na hostilidade das pessoas que deveriam proteger aquela criança, já roubam a confiança, a autoestima e a inocência de quem passa por isso com dores que podem levar uma vida inteira para cicatrizar.
Se o Dia Internacional de Conscientização do Autismo celebre e ensine sobre os direitos de autistas, precisamos lembrar que todos têm o direito à educação, o que inclui não sofrer violência na escola, nem bullying.
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Foto da Capa: Unicef/ONU