Considerando que muitas pessoas estão chegando aos 90 anos, podemos dizer 45 anos é a metade da vida. A pergunta que eu faço é se a melhor parte da vida está na primeira parte, na segunda ou podemos viver igualmente as duas partes da vida? Este tema é polêmico, embora para alguns a resposta pareça fácil: “A juventude, é claro! Quem não trocaria a velhice pela juventude?”. Humm… parece que esta questão não é tão simples assim. Alguém já me disse: “Os meus alunos querem fazer o que eu fiz e chegar onde eu cheguei, porque então eu iria trocar de lugar e passar por tudo o que passei novamente?”
Vamos analisar a primeira fase da vida, até os 45 anos, nos primeiros 20/30 anos as pessoas atingem o ápice do seu desenvolvimento físico e intelectual, ingressam no mercado de trabalho e, quando chegam aos 45 anos, tendem a já ter conquistado melhores salários e ter acumulado algum patrimônio. Óbvio que tudo isto depende de onde a pessoa partiu, das oportunidades que teve da vida, etc. Vamos considerar aqui a realidade de pessoas de classe média ou, das que por meio do estudo, se tornaram classe média. Nesta fase da vida é que elas costumam se casar, ter filhos, descasar, ter novos relacionamentos, conflitos, muitas horas de terapia e, não raramente, voltam a morar com os pais.
Agora analisando a segunda metade da vida destas mesmas pessoas, provavelmente elas irão trabalhar até os 60/65 anos, e mesmo depois de aposentadas, talvez continuem trabalhando por opção ou por necessidade. Dos 45 aos 65 anos, o maior temor é a perda do emprego e não conseguir se recolocar no mercado, pois a pessoa será considerada “velha” num novo processo seletivo. Para os profissionais autônomos, o desafio nesta faixa etária é se reinventar para acompanhar as tendências. Dos 65/70 aos 90 anos é uma fase completamente diferente da que foi vivida pelos nossos avós que chegaram aos 90 anos e passaram anos sentados numa cadeira de balanço esperando a morte chegar. Os idosos de hoje querem viver, se exercitar, viajar, dançar e fazer tudo o que a sua saúde e o seu bolso permitirem. Os investimentos feitos dos primeiros 45 anos, tanto no “pé de meia” quanto nos hábitos saudáveis, terão influência na qualidade dos últimos anos de vida.
E a dores? Se não acontecer nada grave, dentro de dez anos, as pessoas serão uma versão com os desgastes do tempo, mas muito parecida com o que são hoje. Portanto, não seja cético com a velhice. Será que as “dores da segunda fase da vida”, como dores na coluna, nos joelhos, a pressão alta, catarata, diabetes, doenças cardiovasculares, … serão piores do que as enfrentadas na primeira fase da vida onde se destacam o estresse, depressão, ansiedade, burn out, obesidade, alergias, dores na coluna e problemas cervical devido à má postura? Quanto ao humor, provavelmente você conhece algum idoso chato, ranzinza, sempre de mau humor. Li em algum lugar e concordo que “não existe idoso chato, existe gente chata que envelhece”.
E a beleza? Na primeira fase da vida as pessoas são mais bonitas que na segunda, certo? Nos nossos dias convencionou-se que um corpo escultural, bronzeado etc. de uma pessoa com cerca de 20 anos seja o modelo de beleza. Isto é uma convenção para vender desejos, uma vez que menos de 1% da população se encaixa neste padrão. Depois dos 45 anos as gordurinhas e flacidez não possuem mais a mesma importância. As rugas e cabelos brancos são as marcas da vida. Pessoas emocionalmente saudáveis agradecem ao seu corpo por lhes ter trazido até este momento e por poderem continuar desfrutando da vida. A segunda fase da vida é uma libertação do padrão de beleza. As preocupações são em se alimentar bem, cuidar da mente, manter as boas relações e viver a vida.
E o sexo? Na primeira fase ele é mais intenso e se tem mais preocupação com performance. Na segunda fase, as mulheres já passaram pela menopausa e os homens pela andropausa. O sexo tem “menos pressa” e tem mais preliminares. Os cuidados com a saúde também mudam. Antes dos 45 anos muitas pessoas tomam suplementos (whey protein) para melhorar o desempenho físico. Depois, elas tomam suplementos para compensar as alterações que ocorrem no corpo (vitaminas, cálcio, magnésio, ômega 3).
E o sucesso? Assim como temos jovens como Greta Thumberg e Malala Yousafzai se tornando celebridades mundiais com menos de 20 anos, temos pessoas que fizeram sucesso depois de idosos, como por exemplo: Roberto Marinho, que criou a TV Globo quando tinha 61 anos, Cora Coralina, que começou a publicar seus poemas com 76 anos de idade, José Saramago, que só chamou a atenção do público e da crítica com o romance “Memorial do Convento” com 60 anos e a atriz Judi Dench, que fez o papel de “M” no filme 007 contra Golden Eye, que se tornou conhecida aos 61 anos.
Talvez se possa dizer que na primeira fase da vida temos uma maior vitalidade e o desejo de fazer muitas coisas, de conhecer o mundo e de conquistar o nosso espaço. Na segunda fase da vida, estaremos mais preocupados em desfrutar dos momentos, viveremos com menos pressões, menos cobranças e necessidades menores. Cada fase tem seus encantos e suas dores, feliz de quem puder vivê-las com sabedoria, sem se preocupar demais com o futuro e nem lamentar o passado.