Na última semana eu participei do South Summit Brazil 2024 em Porto Alegre, um evento que reuniu 23,5 mil pessoas de 55 países, mais de 900 investidores, 140 fundos de investimentos, 7 mil empresas e mais de 3 mil startups para discutir inovação tecnológica e novos negócios. Eu diria que ali estava representado o pensamento da vanguarda do capitalismo.
Neste evento assisti várias palestras relacionadas à sustentabilidade, ministradas por CEO de empresas, diretores de bancos, de órgãos públicos e de um dos gurus da sustentabilidade, o sociólogo John Elkington, conhecido por ter publicado em 1994 um artigo chamado “The Triple Botton Line: what is it and how does it work?” quando naquela época já sugeriu que as empresas não deveriam focar apenas no lucro (balanço financeiro), mas considerar também o bem-estar da sociedade (balanço social) e o impacto ambiental que causavam (balanço ambiental). Assim surgiu a ideia do tripé da sustentabilidade e que depois evoluiu para ESG e outros conceitos que são utilizados nos dias de hoje.
Na sua palestra, John Elkington falou sobre a construção de negócios positivos e de reinventar a inovação. Disse que nos próximos 10-15 anos teremos mais mudanças do que tivemos nos últimos 50 anos e comentou sobre as “ondas”, passamos pela globalização, pela sustentabilidade, estamos vivendo a onda do ESG e avaliação dos impactos e que a próxima será a da regeneração. Os negócios precisam ser pensados olhando a Geração Z (1997-2012), que representa 2,5 bilhões de habitantes, e na Geração Alfa (2010-2025), que representará mais 2 bilhões de habitantes. Estas gerações estão sentindo na pele o mundo que receberam e querem alternativas que minimizem seus problemas. Com que tipo de empresas elas irão se identificar e onde irão colocar o seu dinheiro? Nas que eventualmente sejam mais lucrativas, mas que vão continuar contribuindo para fazê-las derreter de calor, sofrer com eventos climáticos extremos e talvez ter prejuízos financeiros ou até perder seus bens? Ou nas naquelas que apresentam produtos e serviços que ajudam na regeneração do Planeta?
O relatório sobre riscos para a próxima década do Fórum Econômico Mundial (FEM) de 2024 apresenta uma lista em que coloca em primeiro lugar os eventos climáticos extremos, seguido por: 2. Mudança crítica nos sistemas terrestres, 3. Perda de biodiversidade e colapso do ecossistema, 4. Escassez de recursos naturais, 5. “Fake News” e desinformação, 6. Resultados adversos das tecnologias de inteligência artificial, 7. Migração involuntária, 8. Insegurança cibernética, 9. Polarização social e 10. Poluição. Vale lembrar que o FEM é uma organização que reúne os líderes políticos, empresários e personalidades que também representam a vanguarda do pensamento capitalista.
O relatório do Fórum Econômico Mundial ressalta ainda que 2024-2025 serão importantes para os destinos da democracia no mundo, pois cerca de 3 bilhões de pessoas irão participar de eleições nos EUA, Reino Unido, Índia, México, Indonésia e Rússia. Itens como Fake News e desinformação representam riscos importantes e devem ser enfrentados.
Alguns pontos me chamaram a atenção nas discussões do South Summit e no relatório do Fórum Econômico Mundial. Por exemplo, as questões ambientais, até pouco tempo consideradas um “atrapalho para os negócios”, hoje são vistas como oportunidades. A poluição, que era um dos grandes desafios da humanidade, não foi resolvida, mas outros problemas passaram a ter prioridade e ela caiu para décima colocada entre os riscos para a humanidade na próxima década. E os 17 ODS, que eu considerava tão completos, pois parecia que abordavam todos os temas possíveis, agora vejo que quatro dos riscos listados pelo FEM não fazem parte deles: “Fake News” e desinformação, Resultados adversos das tecnologias de IA, Insegurança cibernética e Polarização social.
Por fim, eu não acredito que a “vanguarda capitalista” irá salvar o Planeta, mas fico satisfeito em ver esta mudança de postura. É possível que nas eleições de 2024-2025 Trump e seus aliados venham a vencer em alguns países, mas isto não significará que o setor conservador dará as cartas do jogo na próxima década. Como diria Gonzaguinha: “Eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão. Eu ponho fé é na fé da moçada, que não foge da fera e enfrenta o leão. Eu vou à luta com esta juventude….”
Referência: Global Risks Report 2024
<< Gostou do texto? Avalie e comente aqui embaixo >>
Foto da Capa: Divulgação