“A pressa é universal, porque todo mundo está fugindo de si mesmo”. A frase é do filósofo alemão Nietzsche e nos deparamos com ela já no início do livro do autor Oliver Burkman: “Quatro mil semanas: gestão de tempo para mortais”. A nossa existência realmente nos mergulhou numa variedade interminável de obrigações. São tarefas como caixas de e-mail lotadas, dezenas de mensagens diárias de WhatsApp, redes sociais bombando o tempo todo, inumeráveis desafios profissionais ou familiares a cumprir, isso sem falar da necessidade de adquirir novos conhecimentos, desempenhos de alta produtividade e assim por diante. E no fim de tudo isso, o que resta de você mesmo?
Foi meditando a respeito das inevitáveis exigências do cotidiano que o autor e jornalista Oliver Burkman escreveu o livro. E ao melhor estilo de Shakespeare, a obra poderia até ter por título “Fazer ou não fazer, eis a questão!” Estimando o tempo médio da vida humana na Terra, Burkman diz que dispomos de quatro mil semanas. O autor lança então um desafio ao nosso estilo de vida apressado. Ao invés de sairmos por aí planejando e executando tarefas sem parar, talvez devêssemos tomar consciência do nosso tempo de vida de uma maneira mais realística. Afinal, não vamos a lugar nenhum enquanto estivermos nesse plano da existência.
Desde o início da história, até o fim da Idade Média, pelo menos até a invenção do relógio e da luz elétrica, a noção de passagem do tempo tinha outro significado para a humanidade, sendo o tempo percebido muito mais em função dos ciclos da natureza e da passagem dos astros pelo céu. Já o filósofo Santo Agostinho, que viveu no século IV a.C., dizia saber o que era o tempo, mas que, se lhe perguntassem, não saberia mais explicar. Outros tempos. Hoje em dia, com tantas obrigações a cumprir, ninguém parece encontrar tempo para “pensar sobre o próprio tempo”, ou digamos, encontrar a si mesmo – seja lá o que isso possa significar. Outro grande filósofo, Aristóteles, ensinava que a verdadeira felicidade estava no que ele chamava de “contemplação”, os instantes em que você se encontra livre do passado ou do futuro, assim como de qualquer outra atividade considerada “útil”. Mas quantos podem chegar a isso?
A proposta de Oliver Burkman, de se pensar na vida a partir de nossa evidente finitude, parece criar, a princípio, uma limitação. Ao invés de nos tornar mais focados e objetivos, essa observação de nossa restrição temporal pode ser até mesmo assustadora, pois pensar no fim de tudo pode acabar nos confrontando com a grave questão do “sentido da vida”, em especial no caso de você não ser, como eu, mais tão jovem assim. Mas a intenção do autor não é nos confrontar com questões tão profundas. Embora o título possa sugerir, o livro não é exatamente de autoajuda. Ele apenas nos alerta para questões inevitáveis de nossa vida, como o desejo desenfreado de nos tornamos melhores, mais produtivos ou mais eficientes, premidos que somos pelas obrigações e as distrações do mundo moderno, incluindo-se aí a inevitável procrastinação que a tantos acomete, o medo do vazio, da solidão, e de nossa aparente insignificância nesse vasto universo de Deus. Será mesmo assim? O livro é um convite para repensarmos a nossa marcha, se estamos correndo na melhor pista e como estamos vivendo nossas quatro mil semanas de vida.
Marcia Budke é publicitária, Mestre em Administração pela PUCRS, especialista em Mídias Digitais e co-fundadora da Brazomidia.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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