Vi a série de oito episódios na Netflix sobre a vida do compositor, músico e cantor argentino Fito Páez. É uma grande produção em termos cinematográficos. Ótimos atores, roteiro que envolve e emociona, direção, enfim, uma série produzida com alta competência profissional.
A escolha por falar de uma pessoa real, viva e atuante, muitas vezes leva a optar pelo formato de documentário. Contudo, semelhante, por exemplo, ao caso do Elton John ou do Queen, foram criadas obras ficcionais, baseadas nas histórias que realmente aconteceram. Ou, pelo menos, contadas a partir de uma visão sobre o que aconteceu.
Ficamos sabendo da vida do Fito desde a infância, com um recurso de roteiro que vai contrapondo diferentes épocas, numa espécie de quebra-cabeças que vai se montando. Os porquês, as descobertas, as revelações, os insights sobre si mesmo, como na vida de cada um, se dão através do tempo. Assim é o roteiro. Seguimos errantes e achando o fio da meada junto com Fito.
Nesse caminho, a música vai costurando, dando o sentido, o norte e vemos como ajuda, inclusive, a tirar sua vida de vários impasses existenciais. A jornada é longa e árdua, cheia de altos e baixos, só sendo possível de seguir ao lado de bons amigos, também eles artistas ou ligados ao meio musical.
O que pensei no dia seguinte, depois de ter chorado várias vezes com os reveses da vida do Fito, foi que estamos num período do mercado musical em que a biografia, nesse caso, como um produto audiovisual, é um novo nicho de investimento. Sim, porque não se trata de um filme alternativo, de baixo orçamento. É um filme com grana. Deve fazer parte de um plano de negócios que supõe recolocar a obra desse artista em grande evidência, desde um aumento de turnês ao número de streamings.
As canções e as histórias que estão na origem das criações, muito bem contadas na série, fazem a gente querer reouvir, agora com ainda maior vínculo afetivo. O nome da série já é o título de um dos seus maiores sucessos: “El amor después del amor”. Nem precisava criar um título em português, bem mais fraco para meu gosto, “Amor e música – Fito Páez”.
É claro que fazer filmes com artistas da música não é uma ideia nova. Assisti no cinema aos filmes do Roberto Carlos, do Teixerinha, dos Beatles, do Led Zeppelin, do Pink Floyd. O que mudou foi que, nesses casos, havia a venda de discos como o produto a ser comercializado. O filme era um produto a mais, não o centro de sustentação do negócio. Agora, com o baixo valor pago por streaming das canções, com uma incipiente tentativa de produzir e recolocar na roda o vinil, filmes como esses passam a ter um perfil de alternativa para recriar o próprio mercado da música.
Foto da Capa: Sebastian Arpesella / Sony Music