Às vezes, os filmes nos chegam por indicação; outras vezes, por pura curiosidade, enquanto percorremos a lista de lançamentos nos streamings. Entre essas duas opções, prefiro a primeira, quando vou direto ao ponto, sem precisar ler inúmeras sinopses até encontrar a melhor alternativa. No entanto, nem sempre tenho recomendações prontas ao mergulhar no vasto universo cinematográfico. Nesses casos, a tarefa se torna mais trabalhosa e exaustiva, mas ainda assim vale a pena quando, em meio a tantas opções, encontro uma boa surpresa.
No último domingo, deparei-me por acaso com a produção polonesa Amor Esquecido, dirigida por Michal Gazda, ao ler uma publicação no Instagram. Confesso que o título não chamou minha atenção. A princípio, pensei se tratar de mais um romance clichê, daqueles que passam na Sessão da Tarde, cuja fórmula foi repetida tantas vezes que sabemos o que vai acontecer em cada cena. A sinopse despertou minha curiosidade, mas o que realmente me levou a dar uma chance ao filme foi o fato de se tratar de uma obra de época.
Ambientado na Polônia nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, Amor Esquecido narra a história de um homem que, após perder a família e a memória, vagueia sozinho por um vilarejo. Quando questionado sobre seu passado, ele responde apenas: “Não sei, eu não me lembro”. Sob o pseudônimo de Antoni Kosiba, o cirurgião Rafal Wilczur surpreende a todos ao seu redor com suas habilidades curativas, que ele mesmo não consegue explicar. Um dia, encontra casualmente a filha que não via desde que ela partiu com a mãe ainda criança. Embora nenhum dos dois se reconheça, o destino os aproxima de uma maneira que faz o passado esquecido vir à tona.
Baseado no romance Znachor, de Tadeusz Dolega-Mostowicz, Amor Esquecido vai além de uma simples narrativa sobre relações familiares. Em sua essência, a obra destaca questões sociais relevantes, especialmente em relação ao acesso desigual aos cuidados médicos. O filme aborda o tema da disparidade social através da figura de Rafal Wilczur, que, mesmo após perder a memória e viver de forma anônima, continua a praticar medicina, ajudando aqueles que mais precisam, sem cobrar por seus serviços.
No vilarejo onde se passa a trama, a diferença entre ricos e pobres é evidente, e isso se reflete no acesso à saúde. Os pobres, muitas vezes incapazes de pagar por tratamentos médicos, enfrentam a dura realidade de ver suas vidas e as de seus entes queridos em risco por falta de recursos. Rafal, com suas habilidades excepcionais, torna-se uma esperança para essas pessoas, oferecendo cuidados que de outra forma estariam fora de alcance.
Essa situação traz à tona a crítica social presente no filme: em uma sociedade onde o dinheiro dita as condições de vida, a saúde se torna um privilégio para poucos. Rafal Wilczur desafia essa lógica ao prestar assistência médica sem discriminar, mostrando que a medicina deveria ser um direito universal, e não um luxo reservado apenas àqueles que podem pagar.
O longa-metragem polonês, ao questionar a ética de um sistema onde a cura de uma pessoa pode depender de sua condição financeira, nos faz refletir sobre o quanto vale uma vida. Através da jornada do protagonista, Amor Esquecido destaca a responsabilidade social dos profissionais de saúde e a necessidade de um sistema mais justo, onde todos, independentemente de sua classe social, tenham acesso ao cuidado necessário para viver com dignidade. Lançado em 2023, o filme está disponível na Netflix e tem sido agraciado com boas críticas pelo público.
Foto da Capa: Reprodução