Todo o final de ano geralmente é assim. Os simbolismos de cada família são revisitados, os laços estreitados ou retomados (às vezes não), amigo secreto, festa na empresa pra divulgação de indicadores, metas…
No início e no final do ano seguimos basicamente o mesmo roteiro. Tem gente que cultua sua religião, tradições, espera o papai noel, pula sete ondas, come lentilha, uva, romã… Tantos rituais possíveis, mas cada família escolhe um que passa de geração em geração.
Há quem escolha ficar sozinho, vale ressaltar que os laços familiares não são obrigatoriamente saudáveis e estar só é uma opção muito utilizada também.
Pensando neste período notei que temos certezas sobre o início e o fim do ano, mas e o que acontece entre esses dois marcos? Sinto informá-los que não temos como prever, por mais que sejam traçadas metas e objetivos futuros bem fundamentados.
Mesmo assim nada está perdido, pois é possível criar estratégias de saúde mental, ter uma ideia ou um rascunho de como desejamos seguir ao longo do ano. No entanto, devo trazer à tona uma verdade absoluta: a vida não está nem aí para o nosso planejamento. Sim, é muito mais saudável e real reconhecermos o acaso ou imprevisto na rotina do dia a dia, pois quanto mais resistimos a eles mais gastamos energia em vão.
Falando em energia, vocês já repararam o quanto ela é valiosa? Convido a todos a reverem onde estão gastando esse bem tão precioso, sem energia não há ação nem movimento. Estejam atentos.
Costumo dizer que a vida é uma eterna redução de danos, porque eles estão aí no cotidiano e quando eu falo isso não estou sendo pessimista a ponto de achar que a vida é feita somente de danos e nossa missão é reduzi-los. Utilizo esta expressão porque somos seres desejantes e tudo que não é suprido é considerado por nós um dano.
A vida de cada um tem seu curso e o acaso opera de forma direta em nosso dia a dia, a redução de danos é particular. Aquele meio termo difícil de achar ou a mudança de estratégia são sempre bem vindos. Parar, pensar e agir quando for possível é necessário e são boas formas de amenizar o dano, mas não esqueçam de dar atenção ao impacto individual e às pessoas próximas. Sou uma defensora da coletividade, movimento que preza o olhar ampliado sobre si e a comunidade, trago esse pensamento como inovação sempre que tenho oportunidade, pois o que rege nossa sociedade é um pensamento individual que age e depois verifica o impacto.
Entendo que seja um movimento difícil para muitos, pois sai da lógica que é nosso costume. Ainda assim é possível, um dia de cada vez, planejando com sabedoria e de forma saudável. Então, entre o início e o fim do ano surgem inúmeras possibilidades como estratégias de saúde mental que passam por decidir onde gastar a nossa energia e pela redução de danos, movimentos individuais que impactam diretamente a nós e o meio em que vivemos de forma direta.
Fico na torcida para que pratiquem a partir de agora ou quando se sentirem preparados para a aventura que é cuidar da saúde mental. Permitir recalcular rotas, rever conceitos e principalmente autorizar seu corpo a sentir e respeitar o que ele está dizendo independente de julgamentos. Levem consigo a certeza de que podemos falar qualquer coisa a qualquer pessoa de forma educada e condizente ao que pensamos em determinado momento da vida.
Você é protagonista da sua vivência!
Jennifer Cereja é mãe, ativista, psicóloga e palestrante. Trabalha em consultório, apaixonada pela clínica e os atravessamentos que a prática proporciona. As escrevivências, como diz Conceição Evaristo, tem o olhar afrocentrado sempre considerando o indivíduo como protagonista de sua história.