O futuro está na moda de novo. De tempos em tempos, volta uma ansiedade no mundo sobre o porvir. Localizo esses momentos em tempos de saltos tecnológicos muito grandes. Saltos que contrastam com a vida como se conhecia até então.
Atualmente, estamos num desses períodos. Inteligência artificial, medicina celular, internet quântica, pra citar alguns dos eixos da novas possibilidades que avançam em alta velocidade e abrem perspectivas que fazem as pessoas se perguntarem como será o mundo daqui pra frente.
Nesse contexto, os futurólogos das mais diversas áreas são chamados para eventos e mais eventos com a esperança de que possam dar respostas que acalmem os aflitos. Mas o futuro, assim como o passado, só existem na linguagem. O que há é sempre o presente. Estamos sempre no agora.
Nos dois modos verbais, o indicativo e o subjuntivo, temos presentes, passados e futuros. O indicativo expressa ações concretas. O subjuntivo, possibilidades. Nos tempos do modo indicativo, temos um presente, três passados, que são o pretérito perfeito, o pretérito imperfeito e o pretérito mais-que-perfeito, e dois futuros, o futuro do presente e o futuro do pretérito.
Ou seja, para organizar nossa percepção do tempo pela linguagem, localizamos um passado em que uma ação começa e termina, por exemplo, eu amei, e chamamos de perfeito. Também no passado uma ação que durou no tempo, por exemplo, eu amava, e chamamos de imperfeito. E ainda uma ação no passado que aconteceu antes de outra ação no passado. É mais que passado, é mais-que-perfeito: eu amara, que usamos hoje mais na forma composta. Por exemplo, eu amei Maria, mas antes eu amara (tinha amado) Gerusa. Mas, atentem, nada disso existe mais. Só existe na linguagem.
O mesmo para o futuro. Ele ainda não chegou. E talvez nem chegue. Mas já existe na linguagem. E percebemos dois futuros. O futuro do presente se refere a algo que afirmo a partir do agora, por exemplo, eu sairei daqui a uma hora. Mas percebemos também um futuro lá no passado, por exemplo, eu compraria se tivesse dinheiro. Aqui o modo indicativo, com esse compraria, encontra o modo subjuntivo, o modo das possibilidades. Tivesse é pretérito imperfeito do subjuntivo. É como se disse futuro do pretérito imperfeito do subjuntivo. Se eu tivesse dinheiro lá no passado, eu compraria, esse seria meu futuro no passado, eu seria um feliz comprador.
E o subjuntivo tem o seu próprio futuro. Por exemplo, quando eu chegar. É uma possibilidade no futuro. Restam ainda dois presentes, o do indicativo, eu caminho, e o do subjuntivo, é possível que eu caminhe.
Então, meu povo, o tempo de fato, o tempo real é um só, o agora. O resto é linguagem. E, como somos seres de linguagem, através dela podemos dar palestras e mais palestras sobre o futuro.
Foto da Capa: Andrey Grushnikov / Pexels