Há algum tempo, escrevi sobre clichês e destaquei um em especial.
Falei da frase “É chegado o momento”.
E hoje, depois de uma conversa com uma amiga, novamente ele me veio à mente.
Especialmente sobre o quanto nós, mulheres, insistimos em deixar a ditadura da luta necessária e incessante guiar nossos passos e pensamentos.
Creio que a maioria de nós – bombardeada que somos, sobre não podermos esmorecer, não devermos desistir de nada, que somos capazes de lutar sempre bravamente e em várias frentes de batalha ao mesmo tempo – acredita que não é bom deixar algo de lado às vezes, mesmo quando nossa saúde é quem paga o preço.
Mas a necessidade de aceitar isso vem.
E geralmente aparece quando o resultado de tanta luta contra nós mesmas e nossas impossibilidades – mentais e físicas – apresenta-se com um peso que não conseguimos mais sustentar.
De tanto seguirmos os parâmetros de cobrança aos quais nos filiamos em massa, nem fomos capazes de avaliar, bem lá no início da nossa jornada, as consequências de todo esse processo incansável de sermos heroínas para tantos.
E pesa, ainda mais, quando se trata de aceitar o tempo do envelhecer.
Parece que para nós, mulheres, envelhecer tem significado de acabar. De fim de nós mesmas. Ou melhor, compramos essa ideia da sociedade que foi construída por séculos.
Aí, quando chegamos nesse tempo, parece que todas as lutas que já travamos ficam ainda mais incessantes. Algo como uma necessidade de mostrar a todos – muitas vezes a nós mesmas – que continuamos capazes, lindas por fora, atraentes no todo, e que o cansaço, ou algum limite, não nos abate.
É inegável que, com tanta ciência à disposição, já sabemos que podemos envelhecer melhor do que nossos pais e avós.
Mas que tal pensarmos e aceitarmos, sem tanta luta interna ou vergonha, que aqui e acolá pode ser diferente?
Como será enfrentar e acolher que nosso corpo muda e, muitas vezes, de forma diferente do tempo da nossa cabeça? Queremos continuar no mesmo ritmo, mas ele responde diferente.
Quem sabe não podemos simplesmente sentir que está tudo bem em um rolê diferente daquele de quando éramos jovens? Que basta um jantar e um vinho com companhia boa para termos uma balada inesquecível.
Eu não vejo nenhum problema em pensar que “é chegado o momento” sim. De ser diferente, de ser o que conseguimos ser.
Afinal, e parafraseando o grande poeta/músico Renato Russo, temos nosso próprio tempo.
E a cada um de nós cabe saber usá-lo. Do jeito e da forma que for melhor para nós mesmos. E não apenas para não cairmos em clichês.
Mildred Lima Pitman - sou Mulher, Mãe, Advogada. E agora, na maturidade, venho buscando, por meio da escrita, uma melhor versão de mim mesma.
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Foto da Capa: Gerada por IA