A busca por acessibilidade e inclusão é árdua. Exige persistência, paciência, tolerância e sabedoria. As administrações fazem o óbvio, a partir de suas visões político-partidárias e verbas, sem ouvir quem precisa e sem chamar profissionais experientes que realmente entendam do assunto. O conhecimento não é levado em consideração, assim como a competência e o cuidado. Basta cumprir a lei. De que forma? Não interessa! Ninguém se espanta. Ninguém fiscaliza. O que importa é que está feito.
Já me deparei com alguns equívocos consideráveis neste sentido.
Por exemplo, um piso tátil* que acaba em uma placa de sinalização (foto abaixo), como aconteceu em julho de 2016 na Rua Doutor Timóteo com a Rua Tobias da Silva, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Vi o piso, alertei um amigo, que avisou o prefeito e escrevi um artigo chamado “Rompendo Barreiras”, publicado no Sul21.
Outro exemplo é um piso tátil atravessado por uma obra de arte, como aconteceu na Avenida Júlio de Castilhos, em São Francisco de Paula (RS), que vai ser ajustado, é claro, mas quando a gente vê fica se questionando.
E as rampas** que são feitas para pessoas que andam em cadeira de rodas? Muitas vezes são íngremes, difíceis de acessar, assim como as calçadas cheias de buracos. Ainda temos os inúmeros acessos impossíveis para quem tem nanismo ou algum outro problema físico. Enfim!
Nada sobre nós sem nós, lema das pessoas com deficiência.
Esta busca por acessibilidade e inclusão é uma luta da minha vida. Já escrevi e escrevo muito sobre isso, inclusive um livro em que falo da minha vida e da vida da minha irmã Marlene, nós duas com nanismo (E fomos ser gauche na vida, 2ª edição, 2022, Pubblicato Editora). Às vezes me parece que ninguém observa e que essas dificuldades não interessam. Até porque quem poderia fazer a diferença não está preocupado com estas questões. É desestimulante ver o descaso com um assunto tão simples. Ouvir as pessoas que têm necessidades especiais é o caminho para abrir este horizonte. Depois, um engenheiro, um arquiteto e um administrador atentos, com olhares inclusivos, podem surpreender neste processo, o que de maneira nenhuma iria onerar os cofres públicos. Um piso tátil bem feito, uma rampa adequada, equipamentos acessíveis e acolhimento em lugares públicos resolveriam muitas questões e facilitariam muitas vidas.
Mas quem está interessado em conversar com estas pessoas? Os governos de um modo geral não olham para algumas camadas da população. São eleitos para representar o povo, mas parecem estar preocupados mesmo é com seus umbigos. Vejamos o tal “Centrão”, que comanda as negociações no país para atender os que não querem perder nada. Vejamos o prefeito de Porto Alegre e os vereadores decidindo os próprios salários. Enquanto isso, os professores precisam engolir os salários que o governo decide. A política partidária é um ninho perigoso, de muitas faces e rara atenção ao que o povo realmente necessita. Este é o cenário. Há exceções, com certeza, há, mas é fundamental trabalhar pela mudança de mentalidades.
Penso aqui com os meus botões e com a minha sensibilidade que legislar em causa própria deveria ser proibido. Mas não é! Portanto, nossa luta não pode vacilar, muito menos, parar!
*Para quem não sabe, o piso tátil é uma faixa em alto-relevo fixada em calçadas e ruas, entre outros espaços públicos, com o objetivo de auxiliar a locomoção de pessoas com deficiência visual.
**Rampa é um piso com 5% ou mais de inclinação. De um modo geral, as pessoas acham que basta fazer a rampa para garantir acessibilidade, mas nem toda rampa é acessível. Há critérios para isso que nem sempre são observados.