Em minha coluna da semana passada escrevi sobre as tendências tecnológicas para 2023. Após a publicação, recebi vários comentários e todos, sem exceção, citaram o Metaverso e o sentimento de alívio de terem encontrado eco a sua incompreensão sobre tanto alarde em torno de algo que não parece ter qualquer fundamento.
Por isso, resolvi aprofundar um pouco o tema. Nos últimos dias me dediquei a ler, ver e ouvir o que encontrasse sobre o assunto para responder algumas questões simples (ou não tão simples). Por que o Metaverso é relevante? Por que é considerado um negócio promissor e cheio de perspectivas? Por que devemos estar lá (como marcas e pessoas)?
Li artigos, ouvi podcasts, vi vídeos … e não encontrei nada além de argumentos frágeis e que, a meu ver, projetam expectativas sem qualquer endosso real ou facilitam a vida dos mais céticos, como eu.
Entre as potencialidades apontadas para o Metaverso está, por exemplo, a compra de roupas, acessórios, terrenos, imóveis e obras de arte virtuais (NFTs). Ou seja, a atratividade estaria em entrar em um videogame mal diagramado para gastar dinheiro em coisas mal diagramadas, que não poderão ser usadas no mundo real.
Outra possibilidade incrível seria a oferta de experiências como salas de aula virtuais para aprendizado imersivo, interações digitais para integração de colaboradores, atendimento ao cliente e vendas. Só esquecem que estes serviços só atrairão usuários que já tiverem sido cativados pelo ambiente. De outra forma, seria como acreditar que alguém compraria um telefone só para ligar para o SAC da Tim.
Como já disse, é claro que reconheço a importância e aplicabilidade da realidade virtual em diversos negócios. Também concordo que existe um desejo inegável, tanto nas empresas quanto nos consumidores, por experiências 3D imersivas. Mas isso é pontual, é periférico e pouco aderente ao nosso comportamento cotidiano.
De modo geral, não vejo o Metaverso respondendo a qualquer problema de seus potenciais clientes. E olha que fiz uma extensa pesquisa aqui em casa sobre a avaliação de cada um sobre o assunto.
O Guilherme, do alto de seus 13 anos e sendo o mais geek da minha amostragem, simplesmente desprezou a conversa. Ele e seus amigos, cúmplices de noitadas de jogatina no Fortnites e RPGs da vida, não estão nem aí para o novo mundo de possibilidades. Segundo ele, ninguém vai deixar de dar tiros em um gráfico realista para ir bater perna na legolândia virtual.
A Gabriela, que se orgulha de ter nascido com 70 anos, desdenha da inovação desde que ela surgiu. Para ela, quem viu o fim de um Second Life, já viu de todos.
Por fim, o Pedro, de 15 anos, teve a melhor resposta: “Tu tá falando de um negócio que nada mais é do que uma vida real com baixa qualidade”. Importante informar para quem não tem filho adolescente que a vida real não tem a menor atratividade para eles.
E antes que alguém diga que somos uma família de gente sem visão de futuro quero deixar dois números para sua reflexão:
- A Meta perdeu 2 ⁄ 3 do seu valor de mercado nos últimos 12 meses, caindo de 880 bilhões de dólares para “míseros” 340 bilhões. Mesmo ainda sendo um negócio gigantesco, dá evidência de que seus investidores não percebem perspectivas de ganhos de curto prazo com a grande aposta da companhia.
- Em fevereiro de 2022, o Metaverso tinha em torno de 300 mil usuários, não se sabe se ativos ou não. Depois disso, não encontrei mais nenhuma informação. Mas outro mundo 3D, o Decentraland, que custou 7 bilhões de dólares, fecha seus dias com menos de 38 usuários ativos.
Assim, entendo que o que o Metaverso precisa é achar a sua utilidade. Não precisa de mais novidades e features, precisa fazer sentido … ter fundamento. Precisa disso para salvar o prognóstico daqueles que afirmam que “as redes sociais foram só um treinamento inicial para o Metaverso”.
Mas pra não dizerem que só vejo impossibilidade no Metaverso, trago aqui a resposta para o título desta coluna. Depois do que ocorreu em Brasília no último domingo, talvez esse seja o ambiente para a glória e redenção dessa horda de malucos que vivem em um mundo paralelo, cheio de sinais e enigmas que passam imperceptíveis pelos centros de inteligência e só são decifrados por tiozões do zap.
Nesse caso, o desafio do Mark será fazê-los abandonar os velhos devices e achar financiadores também para a compra de seus headsets Quest, a fim de tornar a experiência imersiva verdadeiramente real.
Se alguém tiver o zap do véio da Havan, tá aqui o link.
#MarkAcimaDeTodos